Presidente vê chance concreta de recuo no tarifaço e pressiona por cooperação na área de segurança
Após conversar novamente com Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (3) que espera um anúncio “próximo” sobre a possível reversão das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos ao Brasil. O Planalto avalia que a interlocução direta abriu espaço para um rearranjo comercial que vinha travando exportadores brasileiros.
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Lula disse ter saído da conversa telefônica com a impressão de que a tensão gerada pelo tarifaço pode dar lugar a um gesto político de Washington. Ele destacou que parte das taxações já foi suspensa pelos EUA e sinalizou que o restante pode ser revisto. “Acho que está perto de ouvir uma notícia boa”, afirmou.

Na entrevista à TV Verdes Mares, o presidente relatou que contrapôs a postura rígida que Trump costuma exibir publicamente ao tom mais conciliador adotado na ligação. A avaliação interna do governo é que o ex-presidente americano — hoje novamente à frente da Casa Branca — estaria buscando interlocutores confiáveis para reposicionar sua política comercial na América Latina após semanas de instabilidade.
Além do comércio, Lula levou à mesa a crescente presença de líderes de facções brasileiras em território americano. Segundo ele, a cooperação entre Brasil e EUA deve priorizar inteligência compartilhada e operações conjuntas para localizar fugitivos. “Vamos prender os brasileiros que estão aí”, disse o presidente, defendendo alinhamento entre agências de segurança.
A conversa foi a terceira entre os dois desde o retorno de Trump ao poder e vem sendo tratada pelo Planalto como “produtiva” para destravar agendas comerciais e de segurança. A equipe econômica acompanha a movimentação com cautela, avaliando possíveis impactos na balança comercial e na política de importação de insumos industriais brasileiros.
O que está por trás da possível reversão das tarifas
A reportagem apurou que o governo brasileiro intensificou, nas últimas duas semanas, reuniões técnicas com representantes do Departamento de Comércio dos EUA. Documentos internos indicam que os negociadores americanos passaram a avaliar alternativas para manter pressão sobre a China sem penalizar países que fornecem commodities estratégicas ao mercado norte-americano — caso do Brasil, especialmente nas áreas de aço, celulose e produtos semimanufaturados.
Nos bastidores diplomáticos, a possível mudança de rota é vista como resultado de três fatores:
- Custo político interno para Trump após resistência de setores industriais americanos dependentes de insumos brasileiros;
- Pressão de parlamentares dos EUA ligados ao agronegócio, temerosos de impactos sobre cadeias produtivas que têm o Brasil como fornecedor-chave;
- Interesse crescente do governo americano em fortalecer cooperação de segurança com o Brasil diante da presença de facções atuando no exterior.
A interlocução sobre crime organizado não surgiu por acaso. Fontes envolvidas nas negociações afirmam que o tema da segurança vem sendo usado como ponte para destravar a pauta comercial — com o Planalto oferecendo colaboração ampliada em troca de flexibilização tarifária. A estratégia já foi utilizada em acordos anteriores envolvendo dados, extradições e tecnologia de rastreamento.
Outro ponto monitorado é a disputa interna no governo americano sobre o destino das tarifas. Relatórios de consultorias de comércio exterior mostram que a equipe de Trump estuda uma “tarifa modular” que penalize produtos de origem chinesa, mesmo quando triangulados por terceiros países. O desafio para o Brasil será comprovar, com documentação técnica, a origem nacional completa de cada etapa produtiva para não ser enquadrado nesse filtro.
A reportagem identificou ainda que diplomatas brasileiros trabalham para obter apoio de entidades empresariais americanas contrárias ao tarifaço. A movimentação envolve o lobby de associações industriais e agrícolas que temem desabastecimento ou aumento de custos — argumento que já se mostrou decisivo em disputas tarifárias anteriores, inclusive durante a primeira gestão Trump.
Por enquanto, o Planalto evita comentar prazos, mas a transmissão interna é de que um anúncio pode sair antes do fechamento do ano fiscal americano, quando o governo costuma revisar medidas comerciais.




