O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) já pediu abertura de uma mesa de negociação para tratar do assunto e tentar preservar os empregos. Foto Rovena Rosa/Agência Brasil
Os trabalhadores e as trabalhadoras da Mercedes-Benz do Brasil realizam uma assembleia na tarde desta quinta-feira (8) para discutir como vai ser o processo de negociação que envolve a demissão de 2,2 mil metalúrgicos das áreas que a montadora vai terceirizar (linhas de produção e eixos e transmissões de caminhões médios, de logística e ferramentaria) e mais 1,4 mil com contratos temporários que não serão renovados.
Na terça-feira (6), a direção da unidade da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo anunciou que vai fazer uma reestruturação em seu modelo de produção de ônibus e caminhões no Brasil que vai provocar a perda dos 3,6 mil postos de trabalho no ABC paulista.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) já pediu abertura de uma mesa de negociação para tratar do assunto e tentar preservar os empregos.
Motivos alegados
De acordo com informações do jornal Valor Econômico, a direção da multinacional afirma que a medida inclui um plano de terceirização da produção de peças, que hoje é feita quase que toda internamente. Desta forma, a Mercedes contratará empresas para produzir esses componentes e, assim, ainda segundo a direção, recuperar a rentabilidade nos negócios no Brasil, que detém o maior mercado do mundo no segmento. A terceirização, como a CUT sempre alertou, reduz os salários e significa menos direitos.
Um dos motivos alegados pela multinacional para a chamada reestruturação é que há uma expectativa de queda nas vendas de caminhões para o ano que vem quando entra em vigor uma nova legislação sobre emissão de gases poluentes e os veículos serão produzidos com a tecnologia Euro 6, mais cara. Por conta dessa previsão, muitos compradores se anteciparam e já adquiriram os veículos atuais (Euro5).
Outro motivo seria a fábrica estar trabalhando no vermelho há pelo menos oito anos, fruto de investimentos que não deram certo no país como a produção de veículos de passeio.
Inaugurada em 1956, a fábrica da Mercedes-Benz de São Bernardo do Campo foi a primeira da montadora no país e conta com cerca de 9 mil trabalhadores atualmente. É a maior planta fora da Alemanha, ‘terra-natal’ da marca.
No Brasil, a Mercedes detém 27,6% do mercado de caminhões. De acordo com dados divulgados em junho pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), somente no primeiro trimestre do ano, o crescimento nas vendas do segmento foi de 3,9% em relação ao mesmo período de 2021.
Impacto econômico e social
O processo anunciado pela Mercedes levará mais de um ano até ser finalizado. A empresa afirmou que dará prioridade à aquisição dos componentes produzidos por empresas do ABC, com a expectativa de que a mão de obra dispensada seja absorvida na própria região.
No entanto, com o fechamento dessas atividades, o ABC sentirá mais uma vez os impactos econômicos e sociais causados por processos de demissão em massa de trabalhadores.
Em janeiro de 2021 após 100 anos no país, a Ford anunciou o fim de todas as suas atividades no país. Dois anos antes já havia fechado a fábrica de São Bernardo. Cinco mil empregos diretos foram perdidos.
Mas a conta era maior. No caso da Ford, cálculos do Dieese apontaram a perda de cerca de 100 mil outros postos na cadeia produtiva vinculada à produção automotiva.
A Toyota, outra montadora histórica no Brasil – a fábrica de São Bernardo, inaugurada em 1962, foi a primeira fora do Japão – encerrou as atividades no ABC em abril deste ano, transferindo a produção para outras cidades do interior paulista. Cerca de 580 trabalhadores perderam o emprego.
Tanto o fechamento da Toyota como o caso Ford, “é resultado do que as montadoras chamam de reestruturação, um processo característico do capital para reduzir custos com impacto direto na força de trabalho, ou seja, demitindo trabalhadores, sem avaliar alternativas viáveis para manter a produção – e o emprego – eles lucram mais”, afirmou o diretor do SMABC, Wellignton Damasceno, quando a Toyota foi fechada.
O caso da Mercedes-Benz, não é diferente, já que a montadora deixa clara a sua intenção manter sua produtividade, mas sem priorizar o emprego.
Fonte CUT