Decisão expõe rede de apadrinhados em gabinetes ligados ao bolsonarismo
O ministro Alexandre de Moraes anulou, nesta quinta-feira, em Brasília, a votação da Câmara dos Deputados que havia mantido o mandato de Carla Zambelli (PL-SP). O presidente da Casa, Hugo Motta, terá de empossar o suplente Adilson Barroso (PL-SP) no prazo de 48 horas. A medida restabelece o entendimento do STF de que, após condenação criminal definitiva, cabe ao Judiciário decretar a perda do mandato, restando ao Legislativo apenas formalizar o ato.
>> Siga o canal do Jornal Local no WhatsApp
Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão por envolvimento na invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça, em 2023, ação usada para emitir um mandado falso de prisão contra o próprio Moraes. Walter Delgatti foi apontado como executor e confirmou ter atuado a mando da deputada.

A parlamentar foi detida em Roma, em julho, após deixar o Brasil em busca de asilo político usando sua dupla cidadania. O pedido de extradição já está nas mãos da Justiça italiana, com audiência marcada para a próxima quinta-feira (18).
A engrenagem silenciosa por trás da queda de Zambelli
A cassação não afeta apenas uma cadeira do PL. Ela toca numa teia de nomeações cruzadas envolvendo os gabinetes de Carla Zambelli, Alexandre Ramagem e Eduardo Bolsonaro, que se consolidou nos últimos três anos como um dos núcleos de articulação política da direita radical no Congresso.
Levantamentos reunidos por técnicos legislativos e cruzados com registros internos apontam que os três gabinetes abrigam assessores indicados por dirigentes de outros partidos, especialmente Republicanos, PP, União Brasil e MDB. Essas indicações foram distribuídas em ciclos diferentes, de acordo com interesses regionais e negociações eleitorais.
Rede de apadrinhados espalhada por três gabinetes
A presença de servidores cedidos por outras siglas segue dois movimentos principais:
• Alojamento de quadros ligados a investigações – assessores de deputados de partidos distintos, após desgaste em suas bases por denúncias de uso irregular de verba parlamentar ou de esquemas de rachadinha, foram realocados discretamente para os gabinetes de Zambelli, Ramagem e Eduardo Bolsonaro.
• Trocas estratégicas entre diretórios estaduais – em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Santa Catarina, dirigentes de outras legendas indicaram nomes para funções comissionadas em troca de apoio para pré-candidaturas municipais e montagem de chapas para 2026.
Apadrinhados de outros partidos
Documentos de nomeação mostram que os gabinetes receberam servidores ligados a siglas como Republicanos, PP, União Brasil e até MDB, muitas vezes indicados por caciques estaduais com quem os parlamentares mantêm relação lateral. Essas indicações seguem dois padrões:
• Redistribuição de quadros de aliados investigados — ex-assessores de figuras envolvidas em processos por caixa dois, rachadinha ou uso irregular de verba pública foram reabsorvidos em gabinetes do trio bolsonarista para evitar exonerações ruidosas.
• Trocas de favores entre escritórios regionais — em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, deputados de partidos distintos cederam seus apadrinhados como moeda de cooperação para campanhas municipais de 2024 e para montagem das chapas estaduais de 2026.
Disputa interna no PL: a cadeira aberta fortalece uma ala rival de Zambelli em São Paulo, com reflexos na montagem das chapas proporcionais de 2026.
• Impacto na extradição: a perda de mandato retira o argumento político usado pela defesa na Itália de que haveria perseguição institucional, podendo influenciar a audiência de quinta-feira.
Contradições entre a narrativa oficial e os bastidores
A votação anulada pelo STF havia sido conduzida de forma incomum pela Mesa Diretora: mesmo com condenação criminal definitiva, a Câmara abriu discussão política sobre a cassação quando poderia apenas declarar a perda do mandato. A manobra, segundo interlocutores da Casa, ocorreu sob pressão de aliados da deputada que temiam que sua saída enfraquecesse a estrutura de indicações cruzadas mantida em seu gabinete.
A cassação, agora imposta pelo Supremo, mexe nessa engrenagem. A substituição por Adilson Barroso desloca o eixo paulista do PL e pode alterar acordos regionais firmados para as eleições de 2026.




