Exame será feito dentro da PF enquanto defesa pressiona por cirurgia e prisão domiciliar
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a realização de um exame de ultrassonografia no ex-presidente Jair Bolsonaro dentro da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, onde ele cumpre pena de 27 anos e três meses pela condenação na ação penal da trama golpista. A decisão, assinada na noite de sábado (13), reabre a disputa jurídica em torno do estado de saúde do ex-presidente e do uso de laudos médicos como estratégia processual.
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A autorização atende a um pedido da defesa para que o exame seja feito no próprio local da custódia, com equipamento portátil, evitando o deslocamento do condenado para uma unidade hospitalar. O procedimento ficará a cargo do médico Bruno Luís Barbosa Cherulli e será realizado nas regiões inguinais direita e esquerda.

A medida ocorre dois dias após Moraes determinar que Bolsonaro passe por uma perícia médica oficial, a ser conduzida pela Polícia Federal, no prazo de até 15 dias. Na decisão, o ministro foi direto ao apontar que os exames apresentados pela defesa são antigos e insuficientes para embasar pedidos mais amplos, como cirurgia imediata ou conversão da pena em prisão domiciliar.
Nos bastidores do processo, a sequência de movimentos revela um embate técnico-jurídico. De um lado, a defesa tenta demonstrar agravamento clínico e urgência médica, insistindo que o ex-presidente deveria ser transferido para o Hospital DF Star. De outro, o Supremo busca centralizar a avaliação em perícia oficial, reduzindo margem para laudos unilaterais e disputas narrativas sobre a real condição de saúde do condenado.
A decisão de permitir o ultrassom dentro da prisão também expõe uma linha de equilíbrio adotada por Moraes: autoriza o exame solicitado, mas mantém o controle institucional da situação, sem abrir precedente automático para remoções hospitalares externas ou flexibilizações da execução penal.
Bolsonaro está custodiado em uma sala da Polícia Federal, e não em unidade prisional comum, condição que já vinha sendo explorada politicamente por aliados e criticada por adversários. A nova autorização alimenta esse debate, sobretudo em um momento em que o ex-presidente tenta reconstruir sua imagem pública a partir da narrativa de fragilidade física.
Estratégia jurídica em camadas
A defesa alterna pedidos médicos com recursos processuais desde o início da execução da pena. A insistência em exames e cirurgias ocorre paralelamente a tentativas de revisão do regime de cumprimento, o que levanta questionamentos sobre o uso recorrente da saúde como vetor jurídico.
Ao exigir perícia da própria Polícia Federal e apontar a defasagem dos exames apresentados, o Supremo sinaliza que não aceitará decisões baseadas apenas em documentos produzidos pela defesa, reforçando o rigor na execução penal de um ex-chefe de Estado.




