Em Israel, o trompetista nascido em Sumaré Elieser Fernandes Ribeiro (na foto, à direita) aguardava junto a dois músicos locais o resultado de uma seleção para integrar a orquestra filarmônica do país, uma das mais respeitadas do mundo. Recebeu um aviso para ir à outra sala: o maestro Zubin Mehta (na foto, à esquerda) o aguardava. “Parabéns”, ouviu do indiano, seguido de perguntas sobre onde havia estudado e onde morava.
Naquele momento, em 6 de julho deste ano, Ribeiro recebia a notícia que seria o primeiro trompetista brasileiro a integrar a aclamada orquestra sediada em Tel Aviv, cidade onde havia passado por dois dias de testes para uma vaga de trompetista. Concorreu com outros 17 músicos, sejam da Alemanha, Rússia, Inglaterra e israelenses.
Descobriu a vaga por meio de um site que reúne informações sobre emprego para músicos no mundo todo. Sem nenhuma pretensão foi até a página oficial da orquestra e enviou seu currículo, como pedia o procedimento padrão. A ambição era tão rasa inicialmente, que a primeira versão enviada estava desatualizada. Redimiu-se e tratou de despachar via e-mail um segundo documento com as informações em dia sobre sua carreira.
Tempo depois, recebeu, também por e-mail, o convite oficial para ir a Tel Aviv participar do teste. Era necessário confirmar presença até o dia 1º de junho, mas não cumpriu o prazo: o falecimento de sua avó bagunçou a rotina e acabou deixando passar. Mesmo assim, resolveu tentar garantir a presença fora da data estipulada, com sucesso. “Foi uma coisa meio inesperada pra mim”, comenta sobre o momento em que se deparou com o recado de que o currículo havia sido selecionado para o teste prático na sede da orquestra.
Audição
O primeiro dia da prova, sempre prática, foi em 5 de julho, mas Ribeiro achou adequado partir para Israel pelo menos dez dias antes da data. “Fui antes para me acostumar, ver como é que era”, diz. De antemão, já sabia em partes como seriam as provas, pois, no anúncio da abertura da vaga, a filarmônica adianta quais são algumas obras exigidas no teste. Sinfonias de Mahler, Beethoven, Brahms, entre outras.
“Poucas orquestras fazem esse repertório no Brasil”, pontua, esclarecendo que a única exceção seria Beethoven. “Tinha tocado a 5ª de Mahler uma vez só, em uma apresentação em Jaraguá do Sul (SC)”, recorda-se, citando uma das sinfonias que precisou executar nos testes. No primeiro dia de audição, que selecionaria apenas três candidatos para a segunda fase, o brasileiro lembra que não via os jurados, localizados atrás de um biombo.
Situação diferente do dia seguinte: apresentou-se para 15 pessoas, incluindo os trompetistas que serão seus colegas de orquestra e o maestro Zubin Mehta. Com o “parabéns” do indiano armazenado na mente, recebeu a notícia que teria um visto provisório de trabalho de cinco anos para atuar junto à Orquestra Filarmônica de Israel. Casado e pais de dois filhos, não passa pela cabeça do trompetista negar a proposta: em 2012, vai de mala e cuia com a família para Israel.
Carreira
Elieser Fernandes Ribeiro tem 30 anos, e integrou diversas sinfônicas brasileiras. Dentre elas, as de Limeira, Americana e Ribeirão Preto, onde ficou por oito anos. Tem passagem pela Sinfônica de Campinas e hoje assume o primeiro trompete da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre.
Ganhou o instrumento quando tinha nove anos, do seu pai, Esrom Ribeiro, que também vive uma rotina musical: comanda a banda de uma igreja em Sumaré. Os dois irmãos de Elieser também ajudam a compor o ambiente musical da família.
Elieser cresceu na região da Vila Santana, próxima da área central de Sumaré. Nos anos 90, ingressou na Escolinha de Música, vinculada à atual Banda Sinfônica Municipal da cidade, regida pelo maestro Márcio Beltrami. Permaneceu lá dos 9 aos 18 anos.