Operação Coffee Break prende sete suspeitos e revela ciclo sofisticado de lavagem de dinheiro que envolvia doleiros, pagamentos fracionados, laranjas e compra de imóveis de luxo em Campinas e São Paulo
A Polícia Federal revelou que a quadrilha investigada pela Operação Coffee Break, deflagrada nesta quarta-feira (12), converteu ao menos R$ 10,3 milhões em dinheiro vivo e distribuiu propinas por meio de PIX a laranjas, pagamento de boletos, contratos falsos e superfaturamento de produtos educacionais. O principal alvo é André Gonçalves Mariano, dono da Life Tecnologia Educacional, empresa que recebeu mais de R$ 111 milhões de recursos públicos entre 2021 e 2024 em prefeituras da região de Campinas.
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Corrupção, superfaturamento e lavagem
Segundo a PF, a Life Tecnologia Educacional fraudava licitações, superfaturava contratos e direcionava compras em Sumaré, Hortolândia, Morungaba e possivelmente Limeira. Os valores eram desviados, repassados a doleiros e convertidos em propina distribuída a servidores, lobistas, intermediários políticos e agentes públicos.
A maior parte do dinheiro era “esquentada” por meio de uma rede de doleiros que transformava transferências bancárias em dinheiro vivo mediante contratos falsos.

Transferência Via TED viravam R$ 103 milhões em espécie
O papel do doleiro Abdalla Ahmad Fares
A PF identificou que Abdalla Ahmad Fares operava como principal doleiro do grupo. Ele recebia recursos da Life por meio de suas empresas — Abifares e Fares Empreendimentos — que foram as maiores beneficiárias dos repasses da Life: R$ 27 milhões entre 2021 e 2024.
Como funcionava a engrenagem financeira:
- Mariano transferia valores da Life para empresas de Abdalla sob pretexto de contratos fictícios de prestação de serviços.
- Abdalla convertia o montante em espécie, cobrando 3% de taxa, típica de operações clandestinas.
- O dinheiro era retirado pessoalmente por Mariano em endereços comerciais e residenciais do doleiro.
- As cédulas eram entregues em sacos plásticos lacrados, indicando logística profissional.
Entre janeiro de 2022 e junho de 2023, Mariano recebeu R$ 10,3 milhões em dinheiro vivo. Dentro do grupo, o repasse ilícito era chamado de “café”.
PIX de R$ 485 mil para laranja e parcela de apartamento de luxo
O braço em Sumaré
Conversas obtidas no WhatsApp mostram que, em 24 de dezembro de 2024, Mariano enviou R$ 485 mil via PIX a um laranja indicado pelo ex-secretário de Educação de Sumaré, José Aparecido Ribeiro Marin.
O laranja era um homem de baixa renda, sem vínculos em Sumaré e sem bens registrados. A PF acredita que outras pessoas físicas e jurídicas também tenham sido usadas para ocultar a destinação final das propinas.
Além disso, a Life pagou R$ 549.287,78 de uma parcela de um apartamento de luxo em Campinas, a pedido de Marin. O imóvel é avaliado em R$ 2,6 milhões.‘BATOM NA CUECA’: PAGAMENTOS FRACIONADOS E R$ 783,9 MIL EM BOLETOS
Conversas entre Mariano e outro doleiro, Eduardo Maculan, mostram preocupação com transações detectáveis via PIX.
Maculan orienta Mariano:
“Isso aí é batom na cueca (…) sugiro que faça aos poucos (…) segunda, terça e quarta.”
Para dificultar o rastreamento, a quadrilha passou a usar boletos. Em um único dia, a Life pagou 34 boletos, totalizando R$ 783.951,35.
Patrimônio luxuoso
Apartamentos milionários, BMWs e viagens internacionais
Apesar de comandar uma empresa de educação, Mariano ostentava um estilo de vida incompatível com renda declarada:
- apartamento de R$ 10,6 milhões no Jardim Guedala (SP);
- apartamento de R$ 4,2 milhões em Piracicaba;
- viagens frequentes a Londres, Miami e Suíça;
- gastos de R$ 115 mil em vinhos, incluindo garrafas de R$ 2,2 mil;
- BMW X4, BMW X3 (da ex-esposa) e pedido de uma Mercedes AMG GT 63s E Performance por R$ 1,63 milhão.
- DINHEIRO PÚBLICO EM ESCALA: R$ 111 MILHÕES EM CONTRATOS
- A PF apurou que a Life recebeu R$ 111.157.253,83 entre 2021 e 2024 provenientes de Sumaré, Hortolândia, Morungaba e possivelmente Limeira.
- As notas fiscais emitidas para esses municípios somaram R$ 86 milhões — diferença que reforça suspeitas de superfaturamento e pagamentos por produtos não entregues.
Presos ou investigados:
- André Gonçalves Mariano — dono da Life, apontado como operador e distribuidor de propinas
- Abdalla Ahmad Fares — doleiro responsável por converter recursos em espécie
- Eduardo Maculan — doleiro que orientou pagamentos fracionados
- José Aparecido Ribeiro Marin — ex-secretário de Educação de Sumaré, suspeito de articular pagamentos ilícitos
- lobistas e intermediários políticos ainda não identificados publicamente




