Presidente da Casa passa a ser visto como instável e sem comando político pelo governo Lula
A relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), entrou em um novo estágio de desgaste. Segundo relatos de aliados próximos ao Planalto, Lula deixou de levar Motta “a sério” após uma sequência de decisões consideradas erráticas, tomadas sem articulação prévia e com alto impacto político nas últimas semanas.
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No núcleo do governo, Hugo Motta passou a ser classificado como um dirigente imprevisível e politicamente inseguro. A avaliação ganhou força após episódios recentes, como a decisão de pautar, de madrugada, o projeto de lei da dosimetria e a condução em bloco das votações de cassação dos mandatos dos deputados Glauber Braga (PSOL-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP). Para o Planalto, a condução dessas matérias expôs ausência de estratégia e fragilidade no comando da Casa.

Aliados de Lula afirmam que o presidente observa esse comportamento como falta de direção política. Embora evite críticas públicas por respeito institucional, o diagnóstico interno é de que Motta perdeu a confiança do governo. Interlocutores relatam que o Planalto chegou a oferecer uma aproximação mais concreta, inclusive com sinalização de apoio eleitoral na Paraíba em 2026, mas não obteve retorno claro. A leitura interna é que o presidente da Câmara prefere manter distância e não se comprometer com nenhum campo político.
O histórico de desconfiança antecede os episódios recentes. A relação teria se deteriorado de forma definitiva após Motta quebrar um acordo com o governo e acelerar a tramitação do projeto que derrubou o decreto do IOF. A decisão foi comunicada publicamente pelo próprio parlamentar, nas redes sociais, em julho, surpreendendo o Planalto e expondo a falta de coordenação entre os Poderes.
No caso da tentativa de cassação de Glauber Braga, integrantes do governo apontam sinais de descontrole. Quando se desenhou um acordo para preservar o mandato do deputado, Motta teria reagido de forma intempestiva, ligando diretamente para aliados durante a sessão, a partir da mesa diretora. O episódio foi interpretado como perda de comando do plenário. Vídeos que circularam internamente, incluindo uma resposta da deputada Benedita da Silva (PT-RJ) ao presidente da Câmara sobre a promulgação da Constituição de 1988, passaram a ser compartilhados em grupos governistas de forma irônica.
O descontentamento vem sendo externado mais por ministros e líderes partidários do que pelo próprio Lula. Nos bastidores, a avaliação é de que a condução simultânea de processos de cassação envolvendo um deputado de esquerda e uma parlamentar ligada ao bolsonarismo agravou a percepção de que a presidência da Câmara atua sem previsibilidade institucional, abrindo flancos tanto para o governo quanto para a oposição.
Acordos rompidos e alertas no Planalto
O rompimento do acordo sobre o decreto do IOF é tratado como divisor de águas na relação entre Motta e o governo. A decisão afetou diretamente a política fiscal defendida pela equipe econômica e gerou desconfiança sobre a capacidade de o Planalto antecipar movimentos da Câmara. Desde então, ministros relatam dificuldades crescentes de interlocução com a presidência da Casa.
A circulação de vídeos e comentários jocosos em grupos de parlamentares governistas indica que o desgaste ultrapassou o campo institucional e atingiu a imagem política de Hugo Motta. Esse ruído interno enfraquece a autoridade do presidente da Câmara em negociações futuras e amplia a sensação de isolamento dentro do Congresso.




