Declaração mobiliza direita, críticas e acusações de chantagem
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que havia anunciado sua pré-candidatura à Presidência da República, surpreendeu o país ao admitir neste domingo (7) que poderá desistir da disputa — mas alertou: há “um preço para isso”. A fala reacendeu debates sobre anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, beneficiando inclusive seu pai.
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Flávio Bolsonaro declarou, após deixar um culto em Brasília, que considera “uma possibilidade de não ir até o fim” da corrida presidencial. Segundo ele, a retirada da pré-candidatura depende de “um preço” que deverá ser negociado com dirigentes do bloco político de apoio, em reunião marcada para a segunda-feira (8).

Questionado se a “moeda de troca” seria a aprovação de anistia aos condenados pelos atos golpistas de 2023 — o que beneficiaria seu pai, Jair Bolsonaro — o senador respondeu de forma ambígua: “Está quente”.
Em entrevista ao “Domingo Espetacular”, da Record, Flávio disse que seu “preço” seria ver o pai “livre, nas urnas”. Ou seja: a devolução da elegibilidade de Jair Bolsonaro para concorrer, hipótese criticada por adversários como Lindbergh Farias (PT-RJ). Para Lindbergh, a declaração revela “chantagem” e expõe a estratégia da família Bolsonaro de condicionar apoio político à impunidade.
O anúncio e o recuo em menos de 48 horas provocaram reações imediatas no campo político. Para o membro da mesma família, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a desistência não seria opção: numa rede social, ele escreveu que “desistir não é uma opção! Para trás nem para tomar impulso, somente para frente!”.
A estratégia de lançar uma pré-candidatura para depois condicioná-la a concessões políticas — como anistia — reacende alerta entre analistas. Do ponto de vista institucional, a medida visaria beneficiar condenados por sediar ou organizar atos considerados golpistas, o que implicaria intenso debate no Congresso sobre a constitucionalidade da proposta. A movimentação também reflete aritmética da direita e do “Centrão”: a pré-candidatura de Flávio funciona como barganha para reposicionar alianças conforme o interesse de obter apoio à anistia.
O “preço político”: riscos institucionais e tração da malha de impunidade
A possibilidade de amnistia para condenados por atos golpistas — condicionada pela desistência da candidatura de Flávio — representa um teste severo ao compromisso com o Estado Democrático de Direito. A concessão de anistia a crimes contra a ordem democrática envolveria violação de cláusulas pétreas, abrindo precedente perigoso para o uso da prerrogativa como moeda de negociação partidária.
Se a negociação avançar, o Legislativo poderá se ver pressionado a aprovar uma pauta que implicaria revisão de condenações, favorecendo não só o entorno da família Bolsonaro, mas cargas judiciais relacionadas a eventos de 2023. Em termos políticos, a estratégia busca reabilitar a imagem da facção bolsonarista e garantir protagonismo nas eleições de 2026 — mesmo com o principal nome do grupo preso e inelegível até 105 anos.
As reações imediatas indicam, porém, que a manobra pode gerar isolamentos: dentro da direita, a indecisão de Flávio pode levar parte dos partidos a buscar um candidato mais estável — como Tarcísio de Freitas — especialmente se o “preço” for interpretado como tentativa de barganha de impunidade. Por fim, o episódio expõe fragilidades éticas profundas: transformar candidatura em instrumento de negociação judicial arrisca submeter à chantagem o próprio processo eleitoral e a separação entre crime/punição e estratégia partidária.




