Grupo cobrava até R$ 3 mil para ocultar ordens judiciais e adulterar bancos de dados públicos
A Polícia Civil iniciou, na manhã desta quinta-feira, uma operação em Cabo Frio, na Região dos Lagos, para desarticular um esquema criminoso especializado na invasão de sistemas públicos e na manipulação de dados judiciais. As investigações apontam que o grupo atuava principalmente na adulteração de mandados de prisão, beneficiando criminosos ligados à facção Comando Vermelho.
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Segundo apurado, os suspeitos acessavam o Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões utilizando VPNs e credenciais obtidas de forma ilícita. Como não era possível excluir formalmente os mandados, o grupo alterava campos estratégicos do sistema, impedindo que as ordens fossem localizadas em consultas regulares. Na prática, policiais que buscavam pelo nome correto do investigado encontravam o sistema sem registros ativos, criando a falsa impressão de inexistência de mandado de prisão.

O serviço ilegal era oferecido por cerca de R$ 3 mil por ordem judicial ocultada. A apuração revelou que o esquema não se restringia ao BNMP. Os criminosos também manipulavam bases de dados relacionadas a multas de trânsito e débitos de IPVA, ampliando os prejuízos ao Estado e o alcance da fraude.
Durante o inquérito, os investigadores constataram que o grupo utilizava ameaças contra os próprios clientes. Caso o pagamento não fosse efetuado, os criminosos afirmavam ter condições de inserir novos mandados de prisão nos sistemas adulterados, forçando a continuidade do esquema por meio de extorsão.
A identificação dos envolvidos começou a partir do monitoramento de anúncios divulgados em redes sociais oferecendo o “serviço”. A partir daí, a polícia passou a rastrear o fluxo financeiro das transações, chegando à constatação de que a namorada de um dos suspeitos cedia a própria conta bancária para a movimentação dos valores. Esse caminho levou à descoberta de conexões com criminosos em Minas Gerais.
O líder do grupo também foi localizado. Ele possuía experiência anterior em empresas de certificados digitais e utilizou seu conhecimento técnico para fraudar, inicialmente, um mandado de prisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro. Após conseguir burlar o sistema, passou a comercializar o método para terceiros. O homem já havia sido preso em setembro por crimes como violação de segredo profissional, associação criminosa e estelionato.
Até o momento, a investigação não identificou participação direta de servidores públicos. A Polícia Civil aponta que os acessos indevidos ocorreram a partir do roubo de dados de login e senha de profissionais que utilizam os sistemas oficiais, os quais teriam sido vítimas do esquema. As apurações continuam para identificar outros beneficiados e mensurar o impacto total das fraudes.




