Pesquisa encomendada pela Embratur ao instituto de pesquisas Zaytec mostra como o turista internacional vê o Brasil. Rio de Janeiro é a cidade mais lembrada e o presidente Lula é, pela primeira vez, a personalidade mais citada pelos estrangeiros
Além do povo brasileiro, citado por 45% dos entrevistados, Belezas naturais/Natureza (23%), Praias/Mar (18%), Sol/Clima Tropical (com 14%) e Diversidade (9%) são o melhor do Brasil, na opinião de estrangeiros de 27 países, que visitaram o Brasil em junho de 2009, período de realização das 2.405 entrevistas que compuseram a pesquisa “Perfil do Turista Estrangeiro e Imagem do Brasil”.
“A pesquisa mostra que, apesar dos grandes desafios que ainda temos, mais de 90% dos turistas estrangeiros gostam de vir ao Brasil e recomendam a viagem a amigos e parentes. E o povo brasileiro é o maior atrativo que temos”, afirma o ministro do Turismo, Luiz Barretto.
As referências positivas à economia do país são, também, crescentes – foram feitas por 57% dos entrevistados, que apontaram a economia brasileira como em crescimento, dinâmica, forte e estável. Apenas 10% se referiram de forma negativa.
O Rio de Janeiro é a cidade mais lembrada, por 45% dos estrangeiros entrevistados, seguida de São Paulo (16%), Salvador (5%), Florianópolis (3%) e Fortaleza (3%). Quando o assunto é comida, feijoada (20%), churrasco (16%), o feijão com arroz (9%) e carnes (9%) são os mais citados pelos entrevistados.
O presidente Lula, Pelé e Ronaldo são, nesta ordem, as personalidades mais lembradas nas citações estimuladas dos entrevistados. Pela primeira vez, Pelé ficou em segundo lugar. E, quando perguntados sobre qual seria o símbolo do País, os estrangeiros surpreenderam: o mais citado foi bandeira brasileira (24%). Em seguida, estão Cristo Redentor (17%), futebol (7%) e Corcovado/Pão de Açúcar (6%).
“Chamo a atenção para dois aspectos que considero importantes: primeiro, a confirmação de que o jeito de ser, a cultura e o estilo de vida do brasileiro encantam e cativam aqueles que vem nos visitar”, avalia Jeanine Pires, presidente da Embratur. “Depois, a percepção de que o Brasil é um país emergente, que ocupa um novo lugar no mundo e cuja economia aparece como ponto positivo na formação de opinião. Esses dados são essenciais na definição de mensagens e de estratégias de promoção do Brasil no exterior nos próximos anos, em que teremos uma enorme exposição com a Copa em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016”.
O objetivo do estudo é investigar a imagem do Brasil junto aos turistas estrangeiros que visitam o país e determinar o seu perfil. Os resultados da pesquisa, aliados a outros estudos e investigações nacionais e internacionais, servem de base para a elaboração de estratégias, por parte da Embratur, para a promoção do turismo brasileiro no exterior.
Veja outros resultados revelados pela pesquisa:
As belezas naturais
Praias são as primeiras colocadas (com 28%) na lembrança do turista quando o assunto são as belezas naturais do Brasil. Aparecem também Florestas (18%), Rio de Janeiro (16%) e Foz do Iguaçu (7%).
A música/dança
O samba é lembrado por 46%, a MPB e o forró aparecem com 9%; e a bossa nova, com 7%.
Esporte
O futebol continua disparado na frente, com 85% das citações.
Longe de estereótipos
O estereótipo da mulata parece ter saído da cabeça dos turistas: quando questionados sobre a imagem que têm do povo brasileiro, a alusão às mulheres não chegou a 1%, enquanto 25% se referiram à alegria/felicidade do nosso povo e 18% ao jeito amigável, e outros 18% à simpatia.
O que não agrada
22% apontam a Violência/Criminalidade/Assaltos. A Pobreza é citada por 18%, seguida pela Falta de segurança/Falta de polícia (15%) estão em primeiro lugar. O Trânsito/Falta de sinalização é um problema para 11% e os Custos elevados, para 7%.
10% dos turistas não vêem pontos negativos.
Obs: Cada entrevistado poderia dar mais de uma resposta para esta pergunta.
FICHA TÉCNICA:
Amostra: 2.405 entrevistas
População pesquisada – turistas estrangeiros que vieram ao Brasil:
– em viagens de lazer, turismo e/ou eventos ou que, aliado a outra finalidade, passaram no mínimo três dias a passeio no Brasil;
– com 18 a 75 anos de idade;
– com residência fixa em um dos seguintes países: Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Paraguai, Uruguai, México, Estados Unidos, Canadá, Portugal, Alemanha, Espanha, França, Itália, Reino Unido, Holanda, Suécia, Suíça, Rússia, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Japão, China, Coréia do Sul e Índia.
Seleção de entrevistados: abordados nas salas de embarque, no momento do embarque para seus países de origem (final da visita).
Pesquisa finalizada em agosto de 2009
Realização – Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo)/Zaytec
EMBRATUR ESTARIA TENTANDO UMA JOGADA DE MARKETING?
João dos Santos Filho
Como cientista social e turismólogo que milita academicamente com o fenômeno do turismo e hospitalidade a mais de vinte anos, não poderia esquecer as belíssimas aulas sobre a “história das ideologias”, do saudoso sociólogo e amigo Fernando Perrone na admirável ECA – Escola de Comunicações e Artes da USP. No começo da década de 80 em pleno embate entre as forças democráticas que estavam consolidando-se, e as forças dos porões da ditadura militar que persistiam em permanecer dominando.
Na verdade foi um período histórico em que a ECA sofreu, mas soube resistir e Perrone foi um desses professores, que por meio de prontidão em favor da democracia sabia dar as aulas dentro de um cunho crítico e esclarecedor para o entendimento da realidade social brasileira.
Foi pensando neste fato que fomos obrigados a refletir sobre a pesquisa “Perfil do Turista Estrangeiro e Imagem do Brasil” encomendada pela EMBRATUR ao Instituto Zaytec. Que segundo um dos resultados quantificados é extremamente impactante para a lógica do turismo nacional, pois com uma amostragem de apenas 2.405 entrevistas realizadas em turistas que vieram ao Brasil, deu que 45% dos entrevistados afirmam que o “melhor do país é o povo brasileiro”.
Parece que esse dado se constitui em um fato novo nas pesquisas deste campo,
merecendo cuidados especiais no que se refere; a delimitação do problema de pesquisa; a construção de hipóteses; a variáveis delimitadas, conceitos e tipologia. Pois a interpretação e a tabulação devem estar aliadas aos cuidados de rigor científico, que não pode ser confundido como meras pesquisas de opinião, que quase sempre são traduzidas pela rapidez das respostas de densidade emocional, provocadas pela intervenção de entrevistador mal treinado.
Como não temos acesso a essa pesquisa, somos obrigados a levantar essas questões e recordarmos do livro “A Mistificação das Massas pela Propaganda Política” do russo Serge Tchakhotine, traduzido por Miguel Arraes em 1967. Que discute com profundidade o poder das palavras trabalhado dentro do processo ideológico, que pode criar verdades imaginárias que acabam guiando a racionalidade humana. Além da existência de pesquisas realizadas na Universidade de Coimbra, sobre a imigração brasileira em Portugal constatou que os portugueses vêem a mulher brasileira relacionada ao sexo e a dos homens à falta de compromisso e à malandragem.
A EMBRATUR deveria fazer também uma pesquisa junto aos funcionários das operadoras brasileiras de turismo para verificar como as operadoras de turismo estrangeiras classificam e vendem os roteiros de praias da maioria do nordeste brasileiro, ou ainda verificar por que a maioria dos vôos charter se compõe de homens , que quando desembarcam no Brasil não possuem reserva em hotéis.
Por esses motivos de ordem metodológica e de mera observação do cotidiano do turismo no Brasil, questionamos os resultados da pesquisa “Perfil do Turista Estrangeiro e Imagem do Brasil” e indagamos, não seria mais uma das muitas jogadas de marketing da EMBRATUR.