Iniciativa teria sido articulada à revelia do governo federal e pode abrir brecha para interferência estrangeira, segundo fontes em Brasília
Por Sandra Venancio
Representantes do governo do Rio de Janeiro entregaram, há alguns meses, um documento confidencial à embaixada dos Estados Unidos, em Brasília, com uma lista de possíveis benefícios da declaração de facções criminosas brasileiras como organizações narcoterroristas. A informação foi revelada pela jornalista Malu Gaspar, em transmissão da GloboNews, nesta segunda-feira (3).
>> Siga o canal do Jornal Local no WhatsApp
Segundo a apuração, o governador Cláudio Castro (PL) chegou a viajar a Nova York para tratar pessoalmente do tema com autoridades norte-americanas. A movimentação faz parte de uma articulação entre governadores de direita — entre eles, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro — que buscam firmar acordos diretos com o governo dos EUA, sem a intermediação do governo federal.

Essas negociações, segundo interlocutores do Palácio do Planalto, foram classificadas como uma “irresponsabilidade institucional”, já que relações diplomáticas são prerrogativa exclusiva da União.
Fontes ouvidas pela GloboNews afirmaram que a estratégia seria estreitar laços com o governo Donald Trump, em meio à expectativa de uma possível volta do republicano à Casa Branca em 2025. O grupo pretende formalizar alianças subnacionais — diretamente entre estados brasileiros e o governo norte-americano — sob o pretexto de combater o crime organizado e o tráfico internacional de drogas.
No entanto, especialistas em relações internacionais alertam que essa aproximação poderia abrir espaço para uma eventual intervenção militar norte-americana sob o argumento de combate ao narcoterrorismo. Além disso, o Brasil poderia sofrer sanções econômicas automáticas, já que a legislação dos EUA prevê restrições financeiras a países ou entidades associadas a grupos classificados como terroristas.
As revelações vêm à tona poucos dias após a chacina policial ocorrida no Rio de Janeiro, em 28 de outubro, que deixou ao menos 121 mortos em uma operação que tinha como alvo o Comando Vermelho (CV) — uma das facções mencionadas no documento entregue aos diplomatas norte-americanos.
O Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) e o Palácio Guanabara ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o caso.




