Cinco ex-ministros da Justiça cobram do presidente uma resposta direta ao massacre de 121 pessoas na Penha e no Alemão, em operação conduzida pelo governo Cláudio Castro
Por Sandra Venancio
Brasília – 6 de novembro de 2025 – O Brasil chegou a um ponto crítico. A maior operação policial da história recente do país, deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, terminou com 121 mortos — sendo 117 civis e quatro policiais — e provocou uma reação inédita: cinco ex-ministros da Justiça, de governos e espectros políticos distintos, assinaram uma carta aberta pedindo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assuma pessoalmente o comando da segurança pública nacional.
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No documento, os ex-ministros descrevem o episódio como uma “catástrofe de dimensões históricas”, resultado direto de uma “política de guerra contra a população” implementada pelo governador Cláudio Castro (PL). A carta denuncia que as forças estaduais agiram sem coordenação com o governo federal, ignorando os esforços conjuntos do Ministério da Justiça para implementar uma política de segurança integrada e baseada em inteligência.

Ex-ministros unidos pelo apelo
Assinam o documento Aloysio Nunes Ferreira, José Carlos Dias, Miguel Reale Jr. e Nelson Jobim — todos ex-ministros de Fernando Henrique Cardoso — além de Tarso Genro, que ocupou o Ministério da Justiça no primeiro governo Lula.
Também endossam a carta nomes de peso como José Dirceu, Luiz Eduardo Soares, Oscar Vilhena, Técio Lins e Silva e Lenio Streck, além de outros juristas e acadêmicos.
O grupo exige que Lula crie uma Secretaria Especial da Presidência, com status ministerial, para coordenar todas as instâncias policiais, de inteligência e operações federais, com o objetivo de “reconstruir a política de segurança pública do país” e conter o avanço das facções criminosas sem recorrer à barbárie.
“Chegou-se, com esta política de guerra, a um novo limite de enfrentamento armado e de perdas de vidas”, afirma o texto.
“O crime organizado não colocará em xeque a democracia brasileira, mas só pode ser desconstruído mediante estratégias corretas e inteligentes de enfrentamento. O senhor possui legitimidade e apoio popular plenos para liderá-las.”
“Política de guerra” e isolamento do governo do Rio
A carta acusa o governo do Rio de Janeiro de agir isoladamente e de negligenciar o apoio oferecido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Segundo os signatários, Cláudio Castro “colocou as estruturas de Polícia do Estado em confronto com a totalidade da população ali residente”, transformando comunidades inteiras em zonas de guerra.
O texto afirma ainda que muitas das vítimas não tinham antecedentes criminais e que as incursões bélicas têm se mostrado ineficazes há décadas. “Em vez de enfraquecer o tráfico, essas ações alimentam o ciclo de violência e fortalecem as próprias facções”, diz o documento.
A operação mais letal da história
A Operação Contenção, deflagrada há uma semana, foi apresentada pelo governo estadual como uma ofensiva contra o Comando Vermelho. No entanto, o resultado foi um massacre sem precedentes.
Vídeos e testemunhos coletados por moradores apontam que casas foram invadidas, corpos deixados nas ruas por dias, e ambulâncias impedidas de entrar nas comunidades.
Em nota, a Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ repudia ações policiais e reconhece a necessidade de uma atuação firme do estado, mas diz ser inadmissível que tais operações coloquem em risco a vida da população. Organizações internacionais, como a Human Rights Watch, pediram investigação independente.
Reação política e pressão sobre Lula
O documento coloca o governo federal em situação de cobrança direta. Segundo fontes do Planalto, Lula recebeu a carta com “preocupação e atenção”, e interlocutores do presidente avaliam antecipar o debate sobre a recriação do Ministério da Segurança Pública, proposta que consta no programa de governo desde 2022.
Ex-ministro Tarso Genro sugeriu que o novo órgão siga o modelo da secretaria especial criada para coordenar a resposta às enchentes no Rio Grande do Sul, com atuação interministerial e foco em ações estruturais de segurança e direitos humanos.
“A ausência de coordenação nacional permite que governadores transformem operações policiais em palcos eleitorais”, afirmou Genro ao Jornal Local.
“O país precisa de uma política de segurança que salve vidas — não que produza cadáveres.”
O caso reacende o debate internacional sobre violência policial e militarização da segurança pública no Brasil, país que já registra mais de 6 mil mortes em ações policiais por ano, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Lula tem sido pressionado por organizações de direitos humanos, partidos de esquerda e setores da sociedade civil a se posicionar de forma mais dura contra o governo fluminense.
Nos bastidores, assessores próximos afirmam que o presidente avalia fazer um pronunciamento nacional nos próximos dias.
Enquanto isso, a população do Rio vive sob medo e luto, entre enterros coletivos e buscas por desaparecidos.
“Não foi uma operação, foi uma chacina”, resumiu uma moradora da Penha, que pediu anonimato.
“Eles não vieram combater o crime. Vieram matar.”




