Anúncio de candidatura de Carlos Bolsonaro provoca racha entre aliados de Jair Bolsonaro e expõe disputa por poder no PL catarinense
Por Sandra Venancio
Terceiro estado que mais deu votos a Jair Bolsonaro (PL) em 2022, Santa Catarina tornou-se o novo epicentro de uma crise dentro do grupo político do ex-presidente. A disputa, que envolve lideranças bolsonaristas locais e nacionais, gira em torno da escolha de um candidato ao Senado em 2026 e revela o esforço do clã Bolsonaro em garantir blindagem política diante do cerco judicial.
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Segundo a Folha de S.Paulo, o impasse envolve a deputada estadual Ana Campagnolo (PL), a deputada federal Caroline de Toni (PL-SC), o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL), o governador Jorginho Mello (PL) e o senador Espiridião Amin (PP-SC). O conflito escancarou divergências estratégicas e acusações de infidelidade, além de uma disputa pelo comando do bolsonarismo catarinense.

O início do racha
As tensões começaram em junho, quando Jair Bolsonaro anunciou que Carlos Bolsonaro seria lançado ao Senado por Santa Catarina. O estado, um dos redutos mais fiéis ao ex-presidente, foi escolhido como terreno “seguro” para garantir a eleição do filho e, ao mesmo tempo, protegê-lo de possíveis avanços do Judiciário.
A decisão atropelou articulações locais. Caroline de Toni e Espiridião Amin já se movimentavam como pré-candidatos à vaga, e a entrada de Carlos foi interpretada como uma imposição do clã Bolsonaro, que prioriza interesses familiares em detrimento do grupo político.
Caroline rifada e o conflito com o governador
O governador Jorginho Mello, que buscará a reeleição em 2026, tenta costurar uma aliança com o PP para enfraquecer o PSD do prefeito de Chapecó, João Rodrigues. Dentro dessa estratégia, ele informou à deputada Caroline de Toni que ela precisaria deixar o PL caso mantivesse a pré-candidatura ao Senado. A parlamentar acabou rifada da disputa — decisão que aliados atribuíram diretamente à chegada de Carlos Bolsonaro.
Grávida e afastada das atividades públicas, Caroline não se pronunciou. Em seu lugar, a deputada estadual Ana Campagnolo passou a defender a colega e criticou o governador. “Falei com Caroline e com o governador Jorginho há pouco. Ambos confirmaram que ela será obrigada a sair do PL. Com a chegada [de Carlos], ela perdeu a vaga no partido”, escreveu Campagnolo nas redes sociais.
Reação do clã Bolsonaro
As declarações provocaram irritação no núcleo familiar de Jair Bolsonaro. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) respondeu publicamente, acusando Campagnolo de infidelidade e deslealdade política. “Não dá para pedir nosso apoio e, em contrapartida, negar apoio e subordinação. Não dá para querer o benefício da liderança e recusar o ônus que vem com ela”, afirmou.
Campagnolo rebateu com ironia, lembrando que o próprio Eduardo já discordou do pai em outras ocasiões. “Você contrariou seu pai quando foi ventilada a hipótese de ele lançar o Tarcísio à Presidência. E talvez ele lance. Como vai ser? Por que você pode manifestar sua contrariedade e os outros aliados não?”, escreveu.
Estratégia e isolamento
Nos bastidores, aliados admitem que a candidatura de Carlos Bolsonaro por Santa Catarina faz parte de uma estratégia para preservar o clã em cargos eletivos e, assim, manter foro privilegiado em meio às investigações conduzidas pelo STF. A escolha do estado reflete a força do bolsonarismo local, mas também amplia o risco de fragmentação interna do PL.
Com a base rachada, o partido enfrenta o desafio de unir novamente suas lideranças em torno de uma pauta comum, enquanto a família Bolsonaro tenta garantir sobrevida política num cenário de desgaste e disputas internas cada vez mais expostas.




