Ex-parlamentar TH Joias é acusado de intermediar negócios entre o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro; caso expõe infiltração do crime organizado na política fluminense
Por Sandra Venancio
A Polícia Federal (PF) concluiu nesta quarta-feira (12) o inquérito que investiga o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, por suspeita de integrar um esquema de tráfico internacional de armas, lavagem de dinheiro e associação direta com facções criminosas do Rio de Janeiro. O relatório, encaminhado ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, indiciou 18 pessoas, entre elas policiais da ativa, ex-servidores públicos e assessores parlamentares.
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O caso, que agora chega à fase judicial, tem potencial de gerar desdobramentos políticos graves, já que TH Joias era considerado um dos aliados mais próximos do governador Cláudio Castro (PL). Fotografado diversas vezes ao lado do governador em eventos oficiais, o ex-deputado fez parte da base de apoio do governo na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e foi apontado como uma das apostas da ala jovem do MDB fluminense antes de migrar para o grupo político do Palácio Guanabara.

Segundo a PF, TH Joias atuava como intermediário entre traficantes do Comando Vermelho (CV) e do Terceiro Comando Puro (TCP), negociando armas, joias e equipamentos de tecnologia militar, como sistemas anti-drone, destinados a fortalecer o poder bélico das facções. A investigação revelou ainda transações em dólar e empresas de fachada usadas para lavar dinheiro obtido com o comércio ilegal.
O relatório da PF cita nomes de peso no crime organizado carioca, como Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, ligado ao CV, e Wallace de Brito Trindade, o Lacoste, do TCP. Ambos teriam mantido negócios diretos com o ex-deputado. O grupo também é acusado de fornecer armamentos para o Complexo do Alemão e de financiar operações no tráfico da Serrinha, em Madureira.
Durante a deflagração da Operação Zargun, no início de setembro, câmeras de segurança flagraram movimentação intensa na mansão de TH, na Barra da Tijuca. Horas após o início das buscas, pessoas próximas ao ex-deputado foram vistas retirando malas, cofres e documentos, em uma aparente tentativa de ocultar provas e bens.
A prisão de TH Joias abalou o núcleo político de Cláudio Castro e reacendeu questionamentos sobre a infiltração do crime organizado em estruturas do Estado. O caso ocorre paralelamente à crise provocada pela operação policial que deixou 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha — ação que, segundo críticos, teria servido como “cortina de fumaça” para abafar investigações sobre corrupção e tráfico de influência.
O ministro Guilherme Boulos (PSOL-SP) ironizou nas redes sociais o silêncio do governador diante das revelações, afirmando que Castro estaria “angustiado com o avanço das investigações depois da prisão do seu parceiro TH Joias”. Já o ex-governador Anthony Garotinho afirmou que o ex-parlamentar, sentindo-se abandonado, estaria ameaçando delatar autoridades, incluindo o próprio governador e o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar.
Em nota, o MDB confirmou a expulsão de TH Joias de seus quadros logo após a prisão, alegando que ele “não seguia mais a orientação partidária”.
O inquérito da PF reforça uma linha de apuração que mistura política, segurança pública e o poder das facções — um triângulo que, no Rio de Janeiro, parece cada vez mais difícil de separar.




