Em uma representação de 102 páginas, o MPF aponta que o BRB transferiu R$ 12,2 bilhões ao Banco Master por carteiras de crédito fictícias — a aquisição seria a cobertura para crimes contra o sistema financeiro
Segundo a investigação do MPF, comandada pelo procurador Gabriel Pimenta Alves, a tentativa da direção do BRB (Banco de Brasília) de comprar o Banco Master não era um gesto de socorro, mas sim parte de um esquema fraudulento para mascarar repasses ilegais, uso de empresas de fachada e falsificação de documentos. O Banco Central já havia identificado irregularidades, e os investigadores agora pedem prisões preventivas, bloqueio de bens e responsabilização dos envolvidos.
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De acordo com a peça apresentada pelo MPF à Justiça Federal, o BRB fez aportes milionários ao Master iniciados em 2024 — mesmo antes de formalizar a intenção de adquirir parte do banco –, com indícios de que parte significativa desse dinheiro seria destinada a carteiras de crédito que, na análise feita pelo Banco Central, não tinham lastro real.

Ainda segundo a acusação, muitos dos documentos usados para justificar essas transações teriam sido falsificados. O MPF afirma que há “incongruência das datas de criação das empresas”, contratos assinados com datas retroativas e autenticações em cartório produzidas depois — sinais claros de irregularidade para enganar a fiscalização bancária.
A representação afirma que foram usadas empresas laranjas tanto pelo BRB quanto pelo Master, com o objetivo de ocultar a operação. Há menção a sociedades de crédito direto associadas ao Master, que teriam sido usadas para inflar artificialmente seu patrimônio e vender essas carteiras supostamente valiosas ao banco público.
Apesar da rejeição da compra pelo Banco Central — que recusou a operação justamente por risco elevado e falta de transparência —, o MPF diz que os repasses ilegais não cessaram. O órgão alega que o BRB continuou transferindo recursos para o Master mesmo depois da negativa da autoridade reguladora.
Para o MPF, essa conduta indica que os dirigentes do BRB não foram enganados, mas atuaram com “plena consciência e participação nas fraudes”. Segundo a representação, o plano de aquisição visava não só a salvação do banco, mas a ocultação de crimes graves contra o sistema financeiro nacional e contra o patrimônio público do Distrito Federal.
Além disso, a investigação aponta que dois associados de Augusto Lima — sócio de Daniel Vorcaro, controlador do Master — teriam sido usados para compor os documentos fraudulentos. Informações sobre associações ligadas a Lima teriam sido usadas para simular a existência de carteiras de crédito consignado que, segundo o BC, não existiam de fato.
A partir dessas informações, o MPF pediu medidas judiciais severas: prisões preventivas e temporárias de dirigentes do BRB e do Master, além de bloqueio de bens. A gravidade do esquema, segundo os procuradores, pode implicar não apenas crime bancário, mas desvio de recursos públicos, já que o BRB é controlado pelo governo do Distrito Federal.
A Polícia Federal também entrou na investigação. O diretor-geral da PF declarou que a apuração envolve crimes como gestão fraudulenta e organização criminosa, com valores em torno de R$ 12,2 bilhões.
Reações: Até o momento, o BRB se manifestou por comunicados ao mercado, afirmando que irá prestar esclarecimentos à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Já o presidente afastado do BRB, Paulo Henrique Costa, afirmou que não retornará ao cargo, expressando “sentimento de dever cumprido” sem comentar diretamente as acusações.




