Estrutura privada próxima ao condomínio de Bolsonaro é investigada como peça de plano de evasão após violação da tornozeleira eletrônica
A Polícia Federal reabriu a hipótese de que Jair Bolsonaro poderia utilizar um aeródromo privativo da família Piquet, localizado a menos de 200 metros de seu condomínio em Brasília, como rota de fuga, segundo reportagem do Intercept Brasil. A pista entrou no “radar” da investigação depois que surgiram indícios de preparo para evasão quando o ex-presidente tentou violar sua tornozeleira.
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Conforme apurado pelo Intercept Brasil, a PF passou a reconsiderar informações que antes tinham sido descartadas como rumor por agentes de inteligência. O aeródromo em questão, pertencente a Geraldo Piquet Souto Maior — irmão do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet —, tem localização estratégica e pode acomodar aeronaves leves, favorecendo um possível plano de fuga.

Segundo documentos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) citados pelo Intercept, a pista mede 590 metros de comprimento por 18 metros de largura, está pavimentada, possui iluminação de borda e farol de aeródromo para operação diurna e noturna. Essas características a tornam adequada para monomotores leves e helicópteros — aeronaves compatíveis com deslocamento discreto. A proximidade da pista com o condomínio de Bolsonaro (Solar de Brasília) e sua operação contínua reforçaram a atenção da PF.
Fontes ouvidas pelo Intercept Brasil afirmam que a investigação agora inclui levantamento de imagens do aeródromo e avaliação de possíveis diligências para ouvir o proprietário, Geraldo Piquet. Em entrevistas e redes sociais, Piquet tem histórico público de pilotagem: segundo ele mesmo, pilota diferentes tipos de aeronaves, incluindo jatos, e suas publicações mostram pousos e decolagens que sugerem uso regular da pista.
A ligação entre Bolsonaro e Piquet não é nova: segundo a reportagem, Nelson Piquet já demonstrou apoio público ao ex-presidente em diferentes momentos, e há relatos de visitas autorizadas por autoridades judiciais. No entanto, até o momento, não há confirmação pública de que Bolsonaro tenha de fato usado a pista para fuga. A PF ainda não apresentou provas concretas de decolagem planejada, mas a possibilidade está sob investigação.
Além do aeródromo, a avaliação de risco da PF considerou outros elementos: a detenção preventiva de Bolsonaro foi decretada após a constatação de que sua tornozeleira eletrônica foi violada, o que indicou “preparo para escapar”.
Outro ponto que chama atenção na investigação é que uma vigília de apoiadores bolsonaristas na porta do condomínio poderia ter servido como distração estratégica: aglomeração para atrasar ou dificultar ação policial.
Além disso, ressalta-se que a mesma propriedade Piquet foi mencionada em outro escândalo: investigações policiais apontaram que Bolsonaro teria usado a fazenda para guardar joias e presentes recebidos durante seu mandato. De acordo com documentos da PF, parte dessas acusações envolvem itens de alto valor — como relógios e anéis — supostamente depositados na “Fazenda Piquet”
A reportagem do Intercept também destaca que, embora a pista tenha sido considerada plausível, a PF não havia descartado totalmente a hipótese mesmo antes da prisão preventiva. Segundo uma fonte do Departamento de Inteligência Policial, a ideia de usar a pista havia sido classificada como “chance zero” em momento anterior, mas agora voltou a ser examinada com mais seriedade.
As próximas etapas da investigação, segundo o Intercept Brasil, podem incluir uma inspeção técnica da pista, análise de imagens de satélite e eventual oitiva de Geraldo Piquet para esclarecer se houve um plano concreto de uso da pista como rota de fuga.




