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quinta-feira, setembro 19, 2024

O Futuro do Dólar e as Exportações

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Ao longo do século 20, a Coréia do Sul foi o país que mais cresceu no mundo, seguido por Taiwan e pelo Brasil. Para se ter uma idéia, somente de 1971 a 2000, o PIB per capita coreano cresceu 31 vezes enquanto o brasileiro cresceu 7 vezes.

Esse extraordinário desempenho tem despertado muita curiosidade nos meios acadêmicos. Um dos melhores estudos sobre o assunto é o artigo: “Social Development in Korea”, de Irma Adelman (economista romena radicada há muito tempo nos Estados Unidos, professora da Universidade da Califórnia em Berkeley) que expõe de forma sucinta as principais características do modelo de desenvolvimento adotado pela Coréia no período que vai de 1945 até o final do século, o qual ela divide em seis fases.

A primeira fase, que inicia com a libertação do Japão em 1945, passa pelo domínio americano (1945-1948), pela independência (1948) e termina com a Guerra da Coréia (1951-1953), foi marcada por grandes turbulências. Porém foi nessa época, em que a Coréia não apresentava viabilidade econômica e política, é que foram lançadas as raízes para o seu posterior desenvolvimento. Duas ondas de reforma agrária aconteceram no período: A primeira em 1947, quando o governo militar americano decretou que as terras confiscadas dos fazendeiros e corporações japonesas fossem distribuídas para os arrendatários e a segunda em 1949, quando foi colocado o limite de 3 hectares por propriedade. Nesta época, 62% das famílias rurais foram beneficiadas pela reforma agrária: O arrendamento rural foi abolido, quase um milhão de arrendatários tornaram-se proprietários e 570 mil pequenos proprietários puderam expandir suas propriedades.

As corporações japonesas, os prédios, as minas e os bens dos especuladores financeiros também foram confiscados pelo governo. As propriedades confiscadas foram vendidas para o setor privado, abaixo do preço de mercado, para pagamento num período de 15 anos. Embora as vendas dessas propriedades gerassem apenas 4% do total das receitas governamentais, isto acelerou a distribuição da riqueza no país. Desta forma a Coréia iniciou seu processo de desenvolvimento com uma distribuição de ativos reais e financeiros das mais iguais na história do capitalismo.

A segunda fase (1953–1961) foi marcada pela reconstrução pós-guerra da Coréia. A guerra havia destruído um quarto da riqueza do país e matado mais de 5% da população civil. A situação ainda foi agravada com a chegada de mais de 3 milhões de refugiados do norte. As condições de vida eram péssimas, com a maioria do povo vivendo abaixo da linha de pobreza. A retomada econômica foi lenta, e a economia somente não entrou em colapso devido a ajuda americana. As primeiras políticas da época foram voltadas para garantir a sobrevivência da população, a reconstrução da infra-estrutura industrial e a estabilização dos preços.

A terceira fase (1962–1966) foi da formação da infra-estrutura e de substituição das importações. O principal objetivo deste período foi gerar rápido aumento do volume de emprego através do uso de métodos intensivos de mão de obra para a construção de estradas, barragens, projetos de energia e irrigação e também pela substituição de importação nos setores de cimento, fertilizantes, fibras sintéticas e produtos agrícolas.

Neste período, o PIB per capita cresceu 40% e o emprego cresceu 10%, a expectativa de vida subiu 11,7%, a mortalidade infantil caiu 10,5% e as matrículas no ensino primário e secundário triplicaram (em 1966 a Coréia atingiu a universalização do ensino primário). Apesar de disso, o déficit da balança comercial ainda era grande, pois os esforços de industrialização exigiam um aumento nas importações de insumos e maquinários.

A quarta fase (1967-1971) foi caracterizada pela industrialização orientada para a exportação. Houve uma desvalorização de 100% da moeda e abertura seletiva do comércio, A taxa de participação do setor manufaturado no PIB cresceu 50% e da agricultura caiu para 1/3. A taxa anual de crescimento das exportações foi de 38% e a taxa de participação dos produtos manufaturados na exportação subiu para 70% do total. O déficit na balança comercial, no entanto ainda persistia.

Este foi um período de rápido crescimento econômico e melhoria nas condições de vida. O PIB per capita aumentou 2,5 vezes. A absorção da mão de obra foi rápida e a taxa de desemprego caiu 45%. A média dos salários dos trabalhadores desqualificados triplicou. Houve forte crescimento na acumulação e na eficiência do capital. A expectativa de vida aumentou 4 anos e as matrículas escolares aumentaram 28%.

O quinto período (1973-81) foi de investimento nas grandes indústrias. Seis setores foram selecionados: aço, petroquímico, metais não ferrosos, navios, eletrônicos e maquinaria. Houve a criação dos Chaebols (conglomerados industriais). Esta política de concentração industrial fez o PIB per capita aumentar seis vezes, porém piorou a distribuição de renda.

O último período (1982 até o presente) foi de estabilização, ajustamento, liberalização e globalização. Nesta fase a Coréia enfrentou sérios problemas financeiros, porém o investimento em exportação de manufaturados permitiu que o país auferisse grandes superávits comerciais e equilibrasse suas contas. Hoje a Coréia já se tornou um país desenvolvido, com renda per capita próxima a US$ 10 mil.

Embora não se devam transportar modelos de desenvolvimento, uma vez que cada país tem suas próprias peculiaridades. O estudo de um caso de sucesso como o da Coréia pode ajudar bastante o governo e o empresariado brasileiro no processo de elaboração de um projeto de desenvolvimento para o Brasil.

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