O todo quando muito fragmentado nunca chegará a uma solução simétrica e unânime. E foi isto justamente que aconteceu com a rodada de Doha. É impossível a interatividade de interesses num contexto de posições extremamente divergentes.
Fazendo uma analogia vemos que a rodada de Doha é um elefante. Passos pesados, tímidos quase estáticos. Ao caso que os relacionamentos bilaterais são os coelhos. Ligeiro, solto de destreza operacional bem mais dinâmica. Por isto faço apologia dos acordos bilaterais onde o Brasil negociará suas vantagens comparativas e apresentará ao mundo o que têm no seu mercado de sedutor e atraente. Com a visibilidade destes dois atrativos multiplica em muito nosso poder de barganha. Sabemos que no mundo dos negócios não existe filantropia e sim pirotecnia. E isto ficou visível com a posição norte americana país que podia agir com um certo humanismo e foi o mais sectário. Ao caso que o Brasil teve uma posição mais filantrópica num mundo de racionalidade e frieza negocional. Achamos que cabe ao Brasil prioritariamente cuidar de nossos pobres e só subsidiariamente engajar numa política filantrópica universalista. E dentro dos acordos bilaterais aumenta assustadoramente nossa possibilidade de êxitos permanentes.
Sabemos que nós humanos só aceitamos a vitória alheia quando também saímos vencedores ou quando não percebemos os êxitos de nossos competidores. Se a derrota é explicita reagimos na mesma intensidade do sucesso alheio com resistência categórica. E isto ficou perceptível na rodada de Doha onde os negociadores são profissionais, seletivos e conhece bem seus interesses. E então constatamos que só haverá vitória nesta rodada de Doha não havendo perdedores. E isto não foi possível. Principalmente neste começo de um novo mundo onde começa delinear uma simetria de poderes entre os países signatários.
Cabendo a nós brasileiros voltar agora para os acordos bilaterais com mais vigor onde as discussões ocorrerão com um único parceiro e podemos através de nossas vantagens comparativas impor negociações mais peculiares. Sabemos que as persuasões são limitadas e de efeitos estreitos. Por isto imposições vantajosas são mais categóricas do que retóricas sedutoras.
Este fracasso na rodada de Doha trará mudanças de caminhos e prioridade, trazendo vantagens substanciosas para nossa política externa. Para isto é necessária menos retórica e mais pragmatismo. Apresentar nossas vantagens sem maquiagem e subsidiariamente nossas desvantagens sutilmente.
Nossa inserção no mercado externo é irreversível. O que resta de duvida é o compasso de nosso ritmo, mais tímido ou mais ousado. Oportunidades e resistências surgirão em nossa trajetória nas mesmas proporções. Cabendo a política externa mais realismo com pragmatismo em vez de retórica com persuasão.
JUAREZ ALVARENGA