É começo de mês sexta feira a noite uma dessas mulheres típica da classe media pego o carro e vai ao supermercado. Chegando lá encontra sua colega que não via há meses. Diz ela se a vida acontece devemos comentar. Começa a dialogar e faminta de novidades procura comentarem os acontecimentos dos protagonistas da cidade. O primeiro assunto é do filho do Heitor. Diz que ele pela sua performance no mundo jurídico está na iminência de passar no concurso de promotor de justiça. Se isto realmente acontecer será um gol de copa do mundo e comentários para um ano na cidade. Sabe que a Marília com crise existencial foi preciso procurar um psiquiatra. Que o filho adolescente da Marta não quer saber de nada na vida e fica só assistindo a sessão da tarde. Estou doido para ter um problema deste tipo na minha vida. Que a Carla filha de um lavrador da roça do Espinheiro formou e está preste a ir trabalhar em Londres. São estes os acontecimentos do mundo moderno. Que a Gabriela ex- aristocrática dispensou a empregada domestica para fazer economia com propósito de tentar estudar os filhos. Que Talita comerciante da cidade e inserida nos novos burgueses comprou uma assinatura da SKY e é assídua telespectadora do GLOBO NEWS. Que Marina e Pedro depois de um casamento de quinze anos desmoronaram. Depois de todos esses acontecimentos vivenciais a duas mulheres se despendem gentilmente, só voltando ao supermercado daqui um mês. Uma diz as outras novas histórias acontecerão, pois a vida é um processo dinâmico e nós devemos ser gestores premiado de nossas empresas intimas. Colocar a existência na vitrine nos desloca também para o aprimoramento pessoal. Nós da classe media aprendemos a dominar a monotonia e devemos procurar novidades boas com realismo. A vida é padronizada e a excepcionalidade uma raridade. Aprender a viver em ebulição de felicidade em mar quase morto é não naufragar em nossos próprios tormentos.
A classe media está no meio de tudo. E neste trajeto é necessário compreender que dentro do carrinho cheio de mercadorias que levamos para casa devemos adicionar algo abstrato como paz.
Ser protagonista de histórias descontraídas e se a vida nos impuser fatalidades desagradáveis remar mansamente que chegaremos a portos saudáveis.
Ser feliz não é não ter problemas e sim saber manusear os problemas com pericia de um artesão experiente. Domar com firmeza a fase aguda e plantar felicidade mesmo depois da tempestade, pois somente a fertilidade pós desastre vivencial é bem mais robusta e potencial da semente agredida pelas intempéries são mais resistentes.
JUAREZ ALVARENGA