Pedro J. Bondaczuk
A solidão é outro dos meus temas recorrentes, nas tantas crônicas que escrevo (como o amor, as artes, o tempo e o cultivo de valores e ideais, entre outros). Não que me sinta solitário. Pelo contrário! Às vezes até gostaria de poder privar de mais momentos a sós, comigo mesmo, às voltas com meus sentimentos e lembranças. Porém, apenas, às vezes. Gosto da companhia alheia, mesmo que esta não seja da minha livre escolha e me tenha sido imposta, digamos, pelas circunstâncias.
Sou profissional de comunicação, por opção e vocação. E como tal, escrevo sobre pessoas para outras pessoas lerem. Uma das minhas crônicas que tiveram a maior repercussão na internet foi a que publiquei no portal Planeta News, postada no site às 14h46 de 6 de junho de 2005, intitulada “Tormento da solidão”. Alguns leitores concordaram, totalmente, com minhas colocações; outros manifestaram acordo apenas parcial e outros, ainda, discordaram delas. Tudo, ressalte-se, de forma democrática e respeitosa. É gratificante para o escritor contar com este retorno.
Os que apontaram restrições ao referido texto argumentaram (sabiamente, por sinal) que a solidão nem sempre é opressiva, terrível, ou um mal. Estão cobertos de razão! Apenas não leram outra crônica minha, publicada no mesmo portal, e antes de fazerem essas observações, tratando exclusivamente dos que, por alguma razão, optam por serem solitários e se sentem bem dessa maneira.
Convenhamos, o tema é bastante amplo e complexo para ser esgotado, apenas, em um, dois, dez ou vinte textos. Escrevi, inclusive, um livro (ainda inédito, mas que breve estará nas mãos dos leitores) sobre o assunto. E, mesmo assim, este está ainda a milhões de anos-luz de haver sido esgotado.
Uma observação se faz necessária e indispensável: nenhuma pessoa sã e ativa – viva como ou onde viver – goza (ou sofre de) solidão absoluta. Absolutamente solitários são aqueles que, vítimas de doenças graves, por exemplo, levam vidas meramente vegetativas, sem a menor possibilidade de comunicação com o mundo, inclusive tendo contra elas a “torcida” dos parentes para que morram logo, por considerá-los um “peso” (quer no sentido material, quer no afetivo) para a família. É impossível, todavia, saber se têm ou não consciência dessa condição. Suponho (mas não tenho certeza e ninguém a tem) que não.
Por mais solitário que alguém se sinta, tem sempre ao seu redor alguém com quem se comunicar. Provavelmente, admito, não seja a pessoa ideal. Mas está ali, presente. Raros, também, são os que não têm sequer um animal (cachorro, gato, passarinho, jabuti etc.) para lhes fazer companhia. Estão distantes, portanto, da solidão (e muito menos da absoluta). Caso sintam-se solitárias, a probabilidade é a de que não saibam valorizar companheiros (ainda que fortuitos).
Tudo na vida tem modo e momentos adequados. Da minha parte, sinto-me privilegiado. “Tempero” meus dias (como um refinado cozinheiro) com instantes de solidão e outros de plena companhia. As horas solitárias são as oito diárias em que trabalho na minha produção literária. A presença de qualquer pessoa, nesse período, é sumamente inoportuna. O ato de criação é assim: exige silêncio e solidão.
A rigor, nem mesmo nesses instantes estou só. Os amigos sempre estão presentes, de uma forma ou de outra. Tenho, por exemplo, a companhia dos meus livros. Esta, aliás, é a amizade ideal. Privo dela quando quero (e preciso). E quando não mais necessito dos seus préstimos? Simples! Basta fechar o livro e recolocá-lo na prateleira, sem que haja nenhum melindre e nem arrufo. Tenho, ainda, a companhia de pessoas que me consultam a toda a hora pelo MSN ou pelo Skype a propósito de vários assuntos. Como se vê, mesmo optando, num período do dia, pela solidão, esta está anos-luz de ser absoluta.
Já meus períodos vespertinos são a etapa social de cada um dos meus dias. Trabalho numa empresa que edita e imprime o Diário Oficial de Campinas. Privo, portanto, do convívio de centenas de colegas de atividade, com os quais converso, rio, brigo etc.etc.etc. Mas meus contatos com os outros não se restringem a isso.
Finda a jornada de trabalho, encontro amigos, em um bar da cidade, para bebericar, descontrair, jogar conversa fora, falar de literatura, política, mulheres e, não raro, filosofar (depois da terceira dose) e apontar caminhos para “salvar o mundo”. De regresso para casa, ainda conto com a presença sempre amiga (e compreensiva, na verdade cúmplice) da esposa, além do carinho dos filhos.
Como se vê, sou mesmo privilegiado. O que mais posso querer? Privo de solidão, quando preciso ficar sozinho, ou quando me dá na veneta. Todavia, tenho sempre e sempre e sempre ao meu alcance as pessoas de que gosto (e que me completam), além (não posso deixar de mencionar) dos meus bichinhos de estimação: nove gatos, criados a “pão-de-ló” e meu fidelíssimo cão, o Nick, já um tanto caduco, dada sua avançada idade. Reitero: o que mais posso querer?!!