Objetivo da ONU de reduzir número de mortes de crianças pode ser alcançado
A taxa de mortalidade infantil em São Paulo aproxima-se cada vez mais das estatísticas verificadas no primeiro mundo. É o que se pode depreender na avaliação de estudo que acaba de ser divulgado pela Fundação Seade — Sistema Estadual de Análise de Dados. No Estado, ocorreram, em 2005, 13,5 óbitos de menores de um ano por mil nascidos vivos. Trata-se do menor índice já registrado, representando recuo de 5,6%, em relação a 2004, e de 20,7%, em comparação a 2000.
Os dados evidenciam a viabilidade da melhoria da atenção à saúde, por meio da adoção de políticas públicas adequadas, não apenas por parte do governo, como também do Terceiro Setor, e de programas educativos voltados à prevenção e à orientação. Esta é uma responsabilidade inerente a toda a sociedade e aos cidadãos, em especial profissionais e organizações da área médica. Por outro lado, os números divulgados pela Fundação Seade ratificam a previsão de que, no contexto dos países em desenvolvimento, somente na América Latina e no Caribe deverá ser alcançada a redução em dois terços da mortalidade infantil até 2015, uma das Metas do Milênio da Organização das Nações Unidas.
A promoção da saúde infantil é um objetivo em torno do qual todos devem concentrar esforços, pois o problema ainda é muito grave, não só no Brasil, como em várias regiões do Planeta. Entre os anos 2000 e 2005, cerca de 81 crianças, em cada grupo de mil, morreram antes de completar cinco anos de vida. Os avanços foram muito sutis em relação ao qüinqüênio anterior, no qual se registraram 89 óbitos por mil. Considerando esta média mundial, é mais grave ainda verificar a imensa disparidade nas estatísticas: nas nações desenvolvidas, o índice de 10 falecimentos por grupo de mil crianças; nos países em desenvolvimento, é de 89 por mil.
Sob o aspecto médico, pneumonia, diarréia, malária e sarampo (doença para a qual há vacina eficiente e de administração universal na rede pública de saúde) são algumas das principais causas de óbitos de crianças no Terceiro Mundo. Também são causas recorrentes a ausência de cuidados no período da gestação e no parto, como tétano neonatal, septicemia e aids. No entanto, genericamente, a desnutrição aparece como um grave e sistemático agente causador de doenças e mortes no universo da população infantil. Há, ainda, a insanidade das guerras, que, nos últimos 10 anos, tiraram a vida de dois milhões e mutilaram cinco milhões de crianças. Em menos de um mês, os bombardeios no Líbano mataram cerca de 900 civis, sendo um terço das vítimas constituído por menores de 12 anos.
Violência dos conflitos bélicos à parte, o mais irônico dessa situação relacionada à saúde da criança é que a maioria das mortes poderia ser evitada por medidas relativamente simples, como o adequado planejamento familiar, acompanhamento pré-natal, vacinação, programas alimentares e estímulo ao aleitamento materno. O comprometimento com tais metas deve sensibilizar todos, pois a humanidade não pode subverter o sentimento atávico de proteção à criança, que está acima de todas as fronteiras, ideologias, credos e motivações políticas, constituindo-se na própria essência da preservação da vida.
Ricardo de Paula, médico, é presidente da Intersaúde.