Michelle Bolsonaro prega “submissão saudável” e radicaliza discurso religioso e moralista em evento do partido
O encontro do PL Mulher, realizado no último sábado (8) em Londrina (PR), confirmou a radicalização ideológica e religiosa do bolsonarismo. Sob o comando de Michelle Bolsonaro, o evento reuniu centenas de apoiadores e dirigentes do partido em um ambiente que misturou culto evangélico, propaganda política e ataques ao feminismo, à esquerda e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
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“Submissão saudável” e a mulher “cheirosa e diferenciada”
No palco, Michelle apresentou uma espécie de doutrina de submissão feminina como virtude política. Em discurso aplaudido por fiéis e correligionários, defendeu a “submissão saudável” das esposas aos maridos, afirmando que o papel da mulher “de direita” é o de “ajudadora e auxiliadora do esposo”.

Segundo a ex-primeira-dama, as mulheres do PL “não estão na política para competir com os homens”, mas para construir uma “política colaborativa”. Ao mesmo tempo, diferenciou o comportamento das “mulheres de direita”, que descreveu como “cheirosas e femininas”, das “feministas”, a quem chamou de “mulheres do outro lado”.
Michelle afirmou ainda que seu grupo irá “orar para que as mulheres feministas se convertam e venham para o nosso lado”. A plateia respondeu com orações e aplausos, transformando o ato político em um ritual de fé e submissão coletiva.
Ataques ao feminismo e à filosofia
A retórica antifeminista foi reforçada pela presidente do PL Mulher de Londrina, Tabita Vaz, que associou o feminismo a “pílulas de Simone de Beauvoir e marxismo cultural”. Em tom agressivo, chegou a difamar a filósofa francesa, chamando-a de “aliciadora de menores”. A fala, baseada em desinformação, foi recebida com risos e aplausos, em meio a gritos de “amém” vindos da plateia.
O episódio ilustrou o nível de desinformação e intolerância intelectual que pautou o encontro. O feminismo, reduzido a caricatura, foi apresentado como inimigo da fé cristã e símbolo da degeneração moral.
Guerra santa e o inimigo imaginário
Seguindo a escalada moralista, Michelle declarou que “não existe cristão comunista”, unindo fé e ideologia em um mesmo discurso. Em seguida, atacou a comunidade LGBTQIA+ e jovens de esquerda, afirmando que “há uma juventude travestida apoiando o Hamas” e que “eles não entendem que o Hamas mata gays em praça pública”.
A fala reforça a retórica de guerra cultural e religiosa que sustenta o bolsonarismo: a ideia de um mundo dividido entre “cristãos de bem” e inimigos da fé. O discurso busca transformar divergência política em batalha espiritual — uma tática de mobilização que converte o medo em fidelidade política.
Ataques ao STF e discurso golpista
Entre os convidados, o deputado estadual Delegado Jacovoz (PL) usou o microfone para atacar o governo federal e as instituições. Chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “ex-presidiário” e o governo petista de “quadrilha”. Em seguida, afirmou que “o STF está tomado por pau mandados”.
Michelle Bolsonaro endossou as declarações, repetindo que “o Congresso está de joelhos diante do Supremo” e que “quem governa hoje é o Judiciário”. A retórica repete o discurso golpista usado desde 2022, quando o bolsonarismo tentou desacreditar o sistema eleitoral e as instituições democráticas.
O “cuspe no café” e a paranoia da perseguição
O ponto mais delirante do evento veio da secretária nacional do PL Mulher, Ana Munhóz, que afirmou que mulheres de direita vivem sob perseguição política e até risco de envenenamento.
A frase, absurda em seu teor, sintetiza a narrativa paranoica e de vitimização que domina o bolsonarismo. O discurso reforça a sensação de cerco — um estado permanente de medo e conspiração usado para manter a base radicalizada coesa.
Fé, medo e política
O encontro de Londrina demonstrou que o PL Mulher deixou de ser apenas um braço partidário e se transformou em instrumento de mobilização religiosa e moralista. A mistura de fé e política, marcada por desinformação e intolerância, é hoje um dos pilares da estratégia bolsonarista de sobrevivência fora do poder.
Ao transformar a obediência em virtude e a submissão em bandeira, Michelle Bolsonaro consolida o papel do PL como partido da guerra cultural — onde o púlpito substitui o palanque, e a devoção se confunde com disciplina eleitoral.




