Em 12 de março, quando Mario Abdo Benítez veio ao Brasil a convite de Jair Bolsonaro, ninguém poderia imaginar que aquela reunião seria a centelha de uma crise que hoje incendeia o Paraguai e pode custar o cargo do presidente direitista antes mesmo de ele completar um ano no poder.
Os dois encontraram-se em Brasília. Primeiro a sós e, em seguida, cercados por representantes diplomáticos dos respectivos países. Um dos temas na mesa era justamente a revisão de termos do tratado da Usina Hidrelétrica de Itaipu.
À época, segundo a declaração conjunta divulgada pelo Itamaraty no dia seguinte à reunião, os presidente concordaram em manter o “espírito de entendimento construtivo” que marcara até ali a relação entre os dois países. O tempo mostrou, porém, não ter sido bem assim.
Como parte das tratativas iniciadas em março, Abdo Benítez assinou às escuras um acordo que praticamente cede a soberania energética do Paraguai ao Brasil. A utilização da energia do lado de lá da margem segue o roteiro de um acordo firmado nos anos 70 do século passado e atualizado ao longo das décadas.
O Tratado de Itaipu estabelece que cada país tem direito a 50% da energia produzida na hidrelétrica. Como os paraguaios utilizam muito menos do que têm por direito, vendem os megawatts livres ao Brasil a preço de custo, acrescido de uma tarifa de compensação. Sob esse roteiro, o País é o comprador prioritário da energia que sobra do lado de lá. Uma forma de compensar as perdas que o Paraguai enfrentou pela inundação de seu território.