Ministro usa Conselhão para reforçar narrativa econômica antes da votação do orçamento
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira (4) que o Brasil registrará, ao final do atual mandato, “a menor inflação de toda a história”, comparando o desempenho inclusive a períodos anteriores ao Plano Real. A declaração foi feita na plenária do Conselhão, no momento em que o governo tenta sustentar politicamente o arcabouço fiscal e a LDO recém-aprovada pelo Congresso.
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Durante o evento, o ministro destacou também a menor taxa de desemprego da série iniciada em 2012 (5,4%), e citou investimentos recordes em infraestrutura e valorização do salário mínimo como fatores de melhora econômica. Haddad atribuiu a desaceleração da inflação de alimentos ao Plano Safra e ao Pronaf, afirmando que a política agrícola teria sido decisiva para o alívio no custo da cesta básica.

Ao defender indicadores de inflação histórica, o ministro não citou um dos fatores que mais pressionaram o desempenho fiscal nos últimos dois anos: as renúncias tributárias herdadas de governos anteriores e ainda não revertidas. Segundo dados discutidos na LDO, o país seguirá abrindo mão de cerca de R$ 700 bilhões em benefícios fiscais anuais, valor superior ao orçamento federal de saúde e educação somados.
Fontes da equipe econômica afirmam que parte da previsibilidade inflacionária projetada até 2026 depende justamente da revisão dessas renúncias. Sem esse movimento, o governo pode garantir inflação baixa, mas acumulará restrições orçamentárias que afetam diretamente o investimento público — inclusive o plano de infraestrutura que Haddad usou como vitrine.
Entre os setores beneficiados, estão grupos industriais e institucionais que, ao mesmo tempo, pressionam pela manutenção de isenções enquanto ampliam lobby para acessar verba pública via Plano Safra, Pronaf e PAC. A investigação aponta que empresas que mais se beneficiam desses incentivos também lideram financiamentos eleitorais de grandes partidos do Congresso.
Inflação baixa com juro alto — custo social omitido do discurso
Embora cite queda simultânea de inflação e desemprego, o ministro evitou mencionar o peso da política de juros na formação desses índices. A taxa básica elevada restringe consumo, crédito e atividade econômica, contribuindo para a desaceleração dos preços, mas com efeitos colaterais sobre pequenas empresas, agricultura familiar e consumo popular.
A mesma política de juro que favorece o controle inflacionário ampliou o lucro bancário em 2024 e impulsionou o mercado acionário, que Haddad cita como exemplo de confiança. Os ganhos financeiros, porém, contrastam com a expansão recorde da inadimplência de famílias endividadas, especialmente na faixa salarial abaixo do novo limite de isenção do IR proposto pelo governo.




