Suspensão do PEPT acende alerta sobre má gestão e acúmulo de dívidas com ex-jogadores e treinadores
Por Sandra Venancio – Foto Divulgação
A Ponte Preta enfrenta uma das semanas mais delicadas de sua história recente. Envolvida em uma grave crise financeira, a diretoria corre contra o tempo para evitar o colapso de um acordo judicial que permitia o parcelamento de dívidas trabalhistas milionárias. O plano, suspenso após a inadimplência em duas parcelas, pode ser anulado a qualquer momento, obrigando o clube a quitar de uma só vez R$ 8,64 milhões — valor previsto originalmente em 72 parcelas de R$ 120 mil.
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Fontes próximas ao processo revelaram que a situação se agravou com o bloqueio de pelo menos R$ 3 milhões em contas bancárias, valor que seria suficiente para o pagamento de folhas salariais, dívidas operacionais e pendências com a comissão técnica.
Além do descumprimento do Programa Especial de Pagamento Trabalhista (PEPT), autorizado em outubro de 2023 pela Justiça do Trabalho, a Ponte também está inadimplente com duas mensalidades junto à Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD), ligada à CBF, o que pode gerar sanções desportivas, como a proibição de registro de novos atletas.
Ex-jogadores entre os credores
O clube campineiro deve valores significativos a nomes históricos e conhecidos do futebol brasileiro. Entre os credores estão:
- Alexandre Gallo, ex-jogador e ex-diretor da Ponte
- Fábio Ferreira, ex-zagueiro
- Léo Gamalho, atacante
- Aranha, ex-goleiro
- Renato Cajá, ídolo da torcida e ex-armador
Os processos, em sua maioria, tramitam há anos, acumulando correções, honorários e multas. Com o plano de parcelamento suspenso, os credores já pediram o cancelamento do acordo judicial e a execução integral dos valores devidos.
Riscos de colapso institucional
Especialistas ouvidos pela reportagem alertam que o descumprimento de acordos homologados judicialmente configura litigância de má-fé e pode comprometer a já abalada reputação da Ponte Preta na esfera jurídica e esportiva. Segundo um advogado trabalhista consultado, “o clube corre o risco de sofrer penhora de bens, bloqueio de receitas futuras e até o cancelamento de certidões negativas, impedindo convênios e patrocínios.”
Internamente, há relatos de desorganização administrativa e dificuldade em levantar recursos. Apesar de tentativas de renegociação com investidores, a direção não apresentou soluções concretas para evitar o agravamento da crise.
Dados públicos confirmam histórico de dívidas
De acordo com o relatório mais recente do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, a Ponte Preta aparece entre os 10 clubes mais devedores da esfera trabalhista no Estado de São Paulo. Em levantamento do ano passado, já somava mais de R$ 11 milhões em execuções judiciais.
Além disso, dados da CNRD indicam que, em 2024, o clube entrou no ranking das 20 equipes com mais disputas pendentes, somando 14 processos ativos envolvendo atletas, empresários e clubes do exterior.
Torcida cobra transparência
A crise financeira também gera reações da torcida, que cobra explicações públicas da diretoria e transparência sobre as movimentações financeiras. Nas redes sociais, torcedores têm pressionado conselheiros e patrocinadores a exigirem mudanças estruturais.
A reportagem solicitou entrevista com o presidente do clube, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. A assessoria de imprensa da Ponte limitou-se a dizer que “a diretoria está trabalhando para resolver as pendências o mais rápido possível”.