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terça-feira, julho 1, 2025

PCC amplia atuação e se infiltra em 13 setores da economia formal, aponta MP-SP

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Três décadas após sua criação na Casa de Custódia de Taubaté (SP), o Primeiro Comando da Capital (PCC) deixou de ser apenas uma facção restrita aos presídios e periferias do Brasil e passou a operar em larga escala no mundo dos negócios formais, infiltrando-se em ao menos 13 setores da economia nacional, segundo o Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

De acordo com levantamento do MP-SP, divulgado pelo jornal Estado de S. Paulo em reportagem de Marcelo Godoy, a facção criminosa já expandiu suas operações para além das fronteiras brasileiras, estando presente em 28 países. O relatório revela que o grupo se aproveita de brechas na fiscalização e do uso de empresas de fachada para lavar dinheiro do tráfico de drogas e de outras atividades ilegais.

Os promotores responsáveis pelas investigações apontam que o PCC atua em ramos como transporte, comércio atacadista, postos de combustíveis, empreendimentos imobiliários, construção civil, restaurantes, turismo e até em empresas de tecnologia. A diversificação das atividades é uma estratégia para legitimar recursos ilícitos e aumentar a influência econômica da facção.

Criado no início da década de 1990 como uma organização voltada à defesa de direitos de presos, o PCC se transformou em uma das maiores organizações criminosas da América Latina, com redes de tráfico internacional, domínio de rotas estratégicas para a cocaína e conexões diretas com cartéis estrangeiros.

O avanço para setores formais preocupa autoridades, que já pedem mais integração entre Polícia Federal, Receita Federal e órgãos de inteligência para rastrear as movimentações financeiras da facção. Além disso, o MP-SP defende mudanças na legislação para facilitar o bloqueio de bens e o fechamento de empresas ligadas ao crime organizado.

Em que setores o PCC atua hoje?

Segundo investigações do MP-SP, o PCC infiltra recursos e opera negócios em ao menos 13 setores para lavar dinheiro e diversificar sua fonte de renda. Entre os principais, destacam-se:

  • Postos de combustíveis (compra, operação e lavagem de dinheiro)
  • Transporte de cargas e logística
  • Comércio atacadista e varejista (supermercados, lojas de conveniência)
  • Empresas de segurança privada e transporte de valores
  • Construção civil e empreendimentos imobiliários
  • Restaurantes, bares e casas noturnas
  • Agências de turismo e serviços de viagens
  • Empresas de tecnologia e telecomunicações (para comunicação criptografada e fraudes)
  • Compra e venda de veículos (inclusive concessionárias e locadoras)
  • Cooperativas de pesca e agronegócio em regiões de fronteira
  • Associações de fachada (culturais ou esportivas)
  • Clínicas e laboratórios de exames (em alguns casos, para fraudes fiscais)
  • Empresas de importação e exportação (usadas para traficar drogas e contrabando)

Por que isso acontece?

A facção usa empresas legais para lavar dinheiro do tráfico de drogas, movimentar recursos sem chamar atenção, pagar fornecedores e parceiros dentro e fora do Brasil, além de ocupar espaços econômicos em regiões onde exerce poder territorial — principalmente em favelas, periferias e áreas de fronteira.

Presença internacional
Além do Brasil, o PCC já tem ramificações em pelo menos 28 países, principalmente na América do Sul, Europa e partes da África, operando rotas de exportação de cocaína, articulações logísticas, compra de armas e acordos com cartéis estrangeiros.

Como o PCC opera na economia legal

O PCC costuma comprar ou abrir postos de gasolina, principalmente em rodovias ou periferias. Esses estabelecimentos movimentam muito dinheiro em espécie, o que facilita misturar recursos ilícitos ao faturamento legal.
Exemplo real: Em São Paulo e no Paraná, investigações da PF já identificaram redes de postos usados para lavar dinheiro do tráfico, inclusive com notas fiscais frias.

No transporte de cargas, empresas de fachada transportam drogas escondidas em caminhões de mercadorias lícitas (soja, carne, eletrônicos). Muitas vezes, essas empresas recebem contratos com prefeituras ou empresas reais, o que “maquia” a operação.

Construção civil e imóveis
O PCC investe pesado em compra de terrenos, loteamentos e prédios residenciais, especialmente em áreas de expansão urbana. O lucro das vendas de imóveis é usado para justificar entradas e saídas de recursos em contas bancárias.

Em 2021, o Gaeco (MP-SP) revelou que líderes do PCC compraram dezenas de casas populares em nome de laranjas em cidades do interior paulista, usando esses imóveis para revenda ou aluguel.

Empresas de turismo e restaurantes
O setor de bares, baladas e restaurantes também é usado para escoar dinheiro em espécie. Festas e eventos podem servir para pagar fornecedores, contratar shows de fachada e emitir notas frias.

Em investigações no litoral paulista, o MP identificou casas noturnas ligadas a integrantes do PCC, inclusive usando nomes de familiares como sócios formais.

Cooperativas de pesca, agronegócio e exportação
Em áreas de fronteira — como no Mato Grosso do Sul e no Norte do Paraná — o PCC criou cooperativas rurais de fachada. Nessas regiões, caminhões carregam cargas “legais” (como peixe, gado, soja) enquanto transportam cocaína para o Brasil ou para portos que exportam para a Europa.

Empresas de tecnologia e comunicação
O PCC também investe em provedores de internet e sistemas de telefonia clandestinos para manter comunicação interna segura, driblar interceptações e fazer fraudes bancárias.

Em 2020, a Polícia Federal desmontou uma rede de venda de linhas telefônicas clandestinas controladas por integrantes da facção em São Paulo.

Como funciona a lavagem de dinheiro

  • Mistura dinheiro sujo (do tráfico) com o faturamento de negócios legais.
  • Usa laranjas e testas de ferro para abrir empresas.
  • Declara movimentações altas para justificar transferências e compras.
  • Compra imóveis, carros e outros bens de alto valor em nome de terceiros.
  • Realiza operações internacionais (exportação/importação) para mascarar envio de lucros para paraísos fiscais ou para pagamento de parceiros.

Presença internacional

O PCC usa países vizinhos — Paraguai, Bolívia, Peru — como fontes da cocaína. A droga entra no Brasil por fronteiras secas e segue por rotas terrestres, hidrovias e portos para Europa e África, muitas vezes em contêineres de cargas legais.

Na Europa, já foram presos brasileiros ligados ao PCC atuando como “gerentes” de distribuição, conectados a máfias da Itália, Espanha, Holanda e Bélgica.

A expansão do PCC

1993 — O PCC nasce na Casa de Custódia de Taubaté (SP), após rebeliões e massacres no sistema prisional paulista. A facção surge como uma “irmandade” para proteger presos.

1999–2000 — Primeiras ações fora dos presídios: organização de assaltos a bancos, ataques a delegacias e crescimento em favelas.

2006 — O PCC choca o país com uma onda de ataques coordenados contra policiais e órgãos públicos em SP, marcando seu poder de mobilização.

2010–2015 — Consolida rotas internacionais de tráfico de cocaína pela fronteira com Paraguai, Bolívia e Peru. Atinge acordos diretos com fornecedores e começa a operar como “cartel” independente.

2017–2020 — Amplia infiltração em empresas legais. MP-SP começa a mapear setores como transporte, combustíveis, construção civil, postos de gasolina e imóveis.

2020–2023 — Relatórios apontam presença em 28 países, inclusive na Europa, África e Oriente Médio, com prisões de gerentes do PCC na Espanha, Itália, Bélgica e África do Sul.

2024–2025 — Ministério Público confirma que o PCC opera 13 setores formais da economia, usando empresas de fachada para lavar bilhões de reais do tráfico.

Como o PCC se estrutura

  • Cúpula: líderes históricos, alguns presos em penitenciárias de segurança máxima, que decidem diretrizes e punições internas.
  • Administrativo: cuida da parte financeira, lida com advogados, laranjas, contadores e movimenta o caixa da facção.
  • Logística: responsável por logística do tráfico — rotas, transporte, armas, segurança de cargas.
  • Lavagem de dinheiro: braço que articula compra de empresas, imóveis e contratos para escoar dinheiro sujo.
  • Comunicação: cuida de celulares clandestinos, aplicativos criptografados, mensageiros.
  • Bases regionais: cada estado tem “sintonias locais” que obedecem à cúpula e recolhem parte dos lucros.

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