Estatal planeja integrar operação de GLP a outros negócios e pode atuar como distribuidora ou venda direta ao consumidor
Por Sandra Venancio – Foto Arquivo Agencia Brasil
Rio de Janeiro (RJ) – Em agosto, o conselho de administração da Petrobras aprovou o retorno da estatal ao mercado de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), conhecido popularmente como gás de cozinha ou botijão. A decisão faz parte do plano estratégico da empresa, que prevê integrar essa operação a outros negócios no Brasil e no exterior, além de oferecer soluções de baixo carbono aos clientes.
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Atualmente, a Petrobras produz GLP, mas a revenda é feita por distribuidoras privadas, após a estatal vender a operação da Liquigás durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Ainda não está definido se a empresa atuará na venda direta ao consumidor, incluindo entrega de botijões, ou apenas como distribuidora, competindo com empresas privadas que compram o gás para revenda.
Por que a Petrobras quer voltar ao mercado de distribuição de gás?
Segundo a estatal, a volta ao GLP visa “atuar em negócios rentáveis e em parcerias nas atividades de distribuição, respeitando as disposições contratuais vigentes”. A medida ainda está em estudo e considerada “embrionária”.
A decisão ocorre em meio à insatisfação do governo federal com o preço do botijão. Em maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou os valores cobrados: “A Petrobras manda o gás de cozinha a R$ 37. Quando chega aqui, está a R$ 110, R$ 120, em alguns estados até R$ 140. E eu posso dizer que está errado.”
Especialistas apontam riscos políticos na decisão. Max Bohm, da Nomos Investimentos, afirma que a retomada do GLP pode priorizar objetivos políticos sobre rentabilidade: “A primeira reação é negativa, porque a Petrobras deveria focar em negócios de maior retorno, como o pré-sal. Isso já prejudicou a estatal em gestões anteriores.”
Como era a atuação da Petrobras na distribuição de gás antes?
Até 2020, a Petrobras atuava no GLP via Liquigás e em combustíveis líquidos pela BR Distribuidora (hoje Vibra). A Liquigás foi privatizada por cerca de R$ 4 bilhões, com participação da Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás.
Mesmo lucrativa, a distribuição de gás tinha retornos inferiores à exploração de petróleo, e a venda liberou caixa para áreas mais promissoras, como o pré-sal. A Liquigás contava com 23 centros de operação, cerca de 4,8 mil revendedores autorizados e participação de 21,4% do mercado, ou seja, um em cada cinco botijões vendidos.
O botijão pode ficar mais barato?
Há espaço para redução de preços, mas depende da estratégia da estatal. Eric Gil Dantas, do Ibeps, acredita que a Petrobras poderia aliviar o custo ao consumidor, enquanto Bruno Benassi, da Monte Bravo, alerta que reduzir o preço impactaria diretamente a rentabilidade da empresa.
Analistas do Citi indicam que a volta ao GLP será gradual e custosa, com possíveis aquisições de distribuidoras como a Vibra. Barreiras contratuais, como cláusulas de não concorrência até 2029, podem limitar a velocidade de atuação da estatal. O investimento estimado seria de US$ 7 bilhões (cerca de R$ 38 bilhões).
Como é formado o preço do botijão?
O preço médio do botijão de 13 kg no Brasil é de R$ 107,82, segundo levantamento da ANP entre 7 e 13 de setembro. Para reduzir custos, o setor aposta em eficiência logística, georreferenciamento, telemetria e inovação.
O presidente do Sindigás, Sérgio Bandeira de Mello, afirma que a entrada da Petrobras é bem-vinda, mas seu impacto sobre preços será limitado, já que o setor continua competitivo, com disputa acirrada por pontos de venda.
Impacto na competitividade
A atuação da Petrobras determinará a mudança na dinâmica do mercado. Se atuar apenas como distribuidora, disputará margens com concorrentes privados. Caso avance para venda direta ao consumidor, com frota própria e pontos de revenda, poderá transformar radicalmente a competição no setor, avalia Ian Arbetman, da Ativa Investimentos.




