Fenômeno atingiu Rio Bonito do Iguaçu, Guarapuava e Turvo; supercélulas formaram tempestades extremas com destruição generalizada
Por Sandra Venancio
O Paraná viveu, na última sexta-feira (7), um dos episódios climáticos mais severos de sua história recente. Técnicos do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) confirmaram, nesta segunda-feira (10), que três tornados atingiram municípios da região central do estado, provocando uma trilha de destruição e deixando centenas de famílias desabrigadas.
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O caso mais grave ocorreu em Rio Bonito do Iguaçu, onde cerca de 90% das edificações foram danificadas ou completamente destruídas. Casas, escolas, comércios e igrejas foram arrancados do chão por ventos que, segundo medições atualizadas pelo Simepar, chegaram a 330 km/h — força suficiente para arremessar veículos e derrubar construções inteiras.

Outros dois tornados também foram registrados nas cidades de Guarapuava e Turvo, a aproximadamente 130 e 166 quilômetros de Rio Bonito do Iguaçu, respectivamente. Nessas localidades, o cenário foi semelhante: telhados arrancados, árvores partidas ao meio, postes de energia derrubados e plantações devastadas. Apesar do impacto, não houve confirmação de mortes até o momento, mas dezenas de pessoas ficaram feridas e centenas perderam tudo o que possuíam.
Formação dentro de supercélulas
De acordo com o Simepar, os tornados se formaram a partir de supercélulas, o tipo mais perigoso e organizado de tempestade. Esse tipo de sistema é caracterizado por intensa rotação e grande poder destrutivo, capaz de gerar granizo de grande porte, rajadas violentas e tornados múltiplos em sequência.
Os meteorologistas explicaram que, na sexta-feira, as condições atmosféricas eram propícias para a ocorrência desses fenômenos: calor intenso, alta umidade e forte cisalhamento do vento — quando as correntes de ar mudam de direção e velocidade em diferentes alturas da atmosfera. Essa combinação criou o ambiente perfeito para a formação de tempestades severas.
Análise técnica e impacto regional
A equipe do Simepar esteve nas áreas atingidas durante o fim de semana e utilizou imagens de radar, satélite e registros locais para confirmar a ocorrência dos tornados e medir a intensidade dos ventos. O órgão reforçou que a força observada em Rio Bonito do Iguaçu é excepcionalmente alta para os padrões brasileiros, aproximando-se de eventos classificados entre F3 e F4 na Escala Fujita — usada internacionalmente para medir a potência dos tornados.
As prefeituras das cidades afetadas decretaram situação de emergência. Equipes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros trabalham desde o fim de semana na remoção de escombros, restabelecimento da energia elétrica e abrigamento das famílias.
O governo estadual também anunciou o envio de auxílio humanitário, maquinário e material de reconstrução para as áreas mais atingidas. Escolas e ginásios municipais foram transformados em abrigos temporários.
Fenômeno raro, mas cada vez mais frequente
Embora o Paraná registre episódios isolados de tornados quase todos os anos, a simultaneidade de três eventos intensos em um mesmo dia é considerada rara. Especialistas alertam, no entanto, que aumento do calor e da umidade atmosférica observado nas últimas décadas pode estar tornando essas ocorrências mais comuns e mais destrutivas.
O meteorologista Fernando Mendes, do Simepar, destacou que “os sistemas convectivos no Sul do país estão mais energizados”, o que ele atribui ao aquecimento global e às alterações nos padrões de vento. Segundo ele, “a população deve estar cada vez mais atenta aos alertas meteorológicos e buscar abrigo imediato diante de sinais de tempestade severa”.
Reconstrução e solidariedade
Em Rio Bonito do Iguaçu, a destruição é tamanha que ruas inteiras se tornaram irreconhecíveis. Moradores relatam que “o céu ficou verde” e que o som do vento era “como o de um trem passando por cima das casas”. Igrejas, escolas e voluntários organizam campanhas para arrecadar roupas, alimentos e materiais de construção.
Enquanto o trabalho de reconstrução começa, o Simepar e universidades da região devem usar os dados coletados para aperfeiçoar os sistemas de previsão e alerta antecipado, em um esforço para minimizar os danos em futuros eventos climáticos extremos.




