Criado, em 2003, pelo Ministério da Defesa, em parceria com o Ministério dos Esportes, o programa Forças no Esporte estimula a prática de esportes entre alunos de escolas públicas de todo o País, no horário contrário ao das aulas. Ele reúne crianças e adolescentes – entre sete e 17 anos – muitos deles vindos de famílias beneficiárias do Bolsa Família.
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), responsável pelo Bolsa Família, repassa anualmente R$ 3 milhões – por meio da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – para a compra de alimentos que garantem lanche e almoço a todos os participantes do Forças no Esporte. Atualmente, são atendidas 10 mil crianças e adolescentes, em 24 Estados. No ano que vem, o número de participantes deve subir para 20 mil, e em 2011 a expectativa é de 30 mil brasileiros sejam beneficiados.
Graças ao programa, Richard de César Ribeiro de Souza – que tem 8 anos e é aluno de uma escol a classe de Santa Maria, no Distrito Federal – garante que quer ser jogador de futebol. Desde o início do ano, ele participa dos treinos na Estação Rádio da Marinha. “Faço todas as atividades, mas as que mais gosto são futebol e futebol de salão. Quero seguir a minha carreira de futebol e ser militar”.
Já Bruno Henrique da Silva Magalhães, também de 8 anos, conta que deixou de ficar em casa assistindo à TV para participar das atividades promovidas no horário contrário às aulas e desenvolvidas em unidades militares cedidas pelo Ministério da Defesa. “Jogo futebol, capoeira, natação, faço tudo aqui. Gosto muito de vir. Todos os amigos são também da escola”.
O lanche e o almoço são sempre variados. Para Bruna Maria Pereira Conceição, 7 anos, está tudo gostoso. “Como tudo, mas não repito, uma vez está bom”.
Mudança de vida – Segundo o comandante da Estação Rádio da Marinha, capitão-de-fragata José Benônio Valente Carneiro, os alunos que part icipam do Forças no Esporte apresentam melhoras no rendimento escolar e mudanças no comportamento. “As atividades são desenvolvidas em três pontos que acho importantes: social, escolar e esportivo. No aspecto social, as crianças são recebidas por pedagogos da Estação Rádio que trabalham a questão da cidadania, família, educação, higiene, socialização e militarismo. Depois do lanche, tem o reforço escolar. Cada criança aqui é um indivíduo que tem seus problemas e nós conhecemos os problemas de cada um, inclusive na escola. Sabemos, por exemplo, quem tem dificuldade em Português e Matemática. Então, há um estudo obrigatório do pessoal daqui, que fica atento ao problema de cada um. Após isso, é que há uma atividade física bastante diversificada” conclui o capitão-de-fragata.
Trabalho voluntário – O dia-a-dia do projeto conta com outro apoio importante: o das mães voluntárias. Uma delas é Miriam Freitas Correa Paiva que, junto com outras quatro mães, se esforça p ara que tudo saia bem.
Ela acompanha as crianças no ônibus responsável pelo deslocamento dos pequenos atletas e conta que o trabalho começa ainda dentro do veículo. “A gente ajuda a criançada a sentar porque, se deixar, tem sempre uma balbúrdia, um querendo pegar o lugar do outro”. Depois, Miriam acompanha a criançada nas atividades, ajuda a levar os pequenos ao banheiro, beber água, tomar banho, pentear o cabelo, calçar o tênis e se alimentar. O trabalho dessas mães só termina quando a criançada e os jovens entram no ônibus rumo à escola ou ao seu lar.
“A minha filha, Viviane, vem junto comigo todas as terças e quintas-feiras”, conta Miriam. “Comecei por causa dela e me sinto útil aqui, fazendo alguma coisa”. A mãe voluntária não trabalha fora de casa e conta que também ajuda na horta comunitária da comunidade em que vive.
O sub-oficial da Marinha Martins, monitor de atividade física, conta que são quatro os profissionais que cuidam das atividades físicas: “Por e xemplo: agora estou na piscina, mas num outro momento posso estar na quadra, no campo, varia conforme a atividade prevista do dia”.
Desde o início deste ano, Camila Nunes Menezes faz parte do projeto. “Gosto muito. Faço natação, vôlei, basquete, futebol, tudo que tem aqui. Faço o dever de casa, almoço e vou para a escola. Estou na terceira série na Escola Classe Sargento Lima, que fica a alguns quilômetros daqui”. Letícia Lacerda, sua amiga inseparável, também de nove anos, conta que em casa fica praticando corrida para ter mais força e correr mais. “Fico treinando todo o tempo”, se empolga Letícia.
A cabo da Marinha, Cristiane Ramalho, é monitora na Educação Física e auxiliar dos professores da Pedagogia. “Trabalho aqui todos os dias, e nas terças e quintas-feiras pela manhã fico por conta do Forças no Esporte, me dedico às crianças. No restante do dia, trabalho com as atividades da Marinha”.
O mestre Marujo de Capoeira, também militar da Marinha, conta que “a int enção é trazer as crianças para a capoeira, ensiná-los a cultura da capoeira e fazer com que se integrem às suas comunidades por meio do respeito ao esporte, fazer com que não se sintam excluídos e mantê-los sempre com um bom desenvolvimento cultural e físico através da capoeira”. A aula tem duração de 40 minutos.
Segundo o comandante Barros, coordenador-geral do Forças no Esporte, o projeto na Estação Rádio da Marinha tem hoje 108 crianças entre 6 e 11 anos. Quando completam a idade máxima, podem continuar na outra unidade do Grupamento dos Fuzileiros Navais, onde atualmente são atendidas 200 crianças e jovens de até 17 anos. Ali, além de natação e todos os esportes coletivos, também são oferecidos reforço escolar, noções de cidadania, práticas culturais(visita a museu, cinema) e competições externas. “Esse leque de atividades extra-curriculares dá ao cidadão um conhecimento que vai além do que o programado pelo Ministério da Educação”, relata o comandante.
As criança s do Distrito Federal que participam do Forças no Esporte são indicadas pela Secretaria de Ação Social, pelas associações de moradores ou pelas escolas.
“A oportunidade de esporte para essas crianças faz com que cresçam muito mais do que outras que não possuem a mesma experiência. Elas saem daquele mundo cruel, muitas vezes caótico, hostil, cheio de violência, desajustado”, conta o comandante Barros. A meta do programa, segundo ele, é chegar a 100 mil crianças dentro da estrutura das Forças Armadas em todo o Brasil.