Nas eleições presidenciais brasileiras de 2002, o então candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva adotou o slogan que pregava que a “esperança venceria o medo”. Produto da ditadura dos anos 1960 e 1970, em resposta à política de coronelismo e elitista, o partido dos trabalhadores foi fundado pela junção do popular com o intelectualismo de vertente esquerdista. De 1989 a 1994, a imagem que se vinculava a Lula era do radicalismo vermelho, temida pela população sobretudo em função do colapso socialista após a queda do muro de Berlim, onde o medo vencera a esperança. Após quatro derrotas consecutivas, o PT investiu em uma imagem de Lula mais suave, menos radical, o Lula Light, como se comentava à época. Vestido para vencer, o candidato petista mudou o visual e o discurso, utilizando-se dos recursos do marketing eleitoreiro. A vitória de Lula, em 2002, confirmara apenas a influência da propaganda da mídia na população. Com forte apelo na diferença, embora seguindo o discurso e a postura da semelhança em relação ao governo anterior, vendeu-se a idéia de um governo democrático, que atenderia às demandas de todos os setores da população com o diferencial da ética contra a corrupção. Ao observar os escândalos e as crises no seu mandato, percebe-se que o produto vendido correspondeu à imagem da semelhança. Além de não ter havido modificações significativas de conduta governamental em relação aos âmbitos jurídico, econômico, de saúde e educação, no tocante à corrupção e impunidade, obteve-se “mais do mesmo”.
Ao contemplar a ascensão de Lula no governo brasileiro, evidencia-se, por um lado, o desmonte de uma utopia – a impunidade venceu a esperança. Por outro, observa-se também o fenômeno daquilo que Mario Vargas Llosa considera como “a civilização do espetáculo”. A sociedade brasileira segue essa tendência mundial que privilegia a forma ao conteúdo. Por meio do desenvolvimento da mídia e das mais diferentes formas de propaganda e publicidade, comercializa-se a imagem efêmera do que representa o sucesso. A moda do vestir, do calçar, do pensar, do querer e do agir torna-se generalizada a fim de influenciar diretamente no componente psíquico dos indivíduos. Age-se, diretamente, na construção da identidade, na insegurança e no temor de não ser agradável. Nesse sentido, a mensagem transmitida não pode ser múltipla e deve representar o modelo ao qual se deve mirar. Atualmente, o candidato não é eleito em função do partido a que pertence, das idéias que defende, das medidas que propõe, mas por deter a imagem mais fácil de ser vendida – a que agrada a população, ou ainda, aquilo que se considera que o povo deseje como líder. O indivíduo que opta por adotar diversos comportamentos, modos de pensar e agir, isto é, personalidades diferentes da sua, com o propósito de agradar ou vencer uma disputa eleitoral corre o risco de não conseguir identificar sua própria identidade. Em meio a tantas tendências divergentes, não saberá com que “máscara” deverá se apresentar. E, quando for necessário livrar-se das máscaras, poderá se surpreender em não o conseguir por estarem coladas a sua face. Infelizmente, como se notou nas eleições de 2006, não observar-se-á uma mudança de comportamento no futuro próximo, afinal, na “civilização do espetáculo”, o show deve continuar.
Cristiane Renata de Lima Prestes
4º ano do curso de História da Unicamp