O Estado de Minas Gerais desembolsou R$ 13,9 milhões na construção de um aeroporto em uma fazenda que pertence a um parente do candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves. A obra teve início no segundo mandato do tucano como governador do Estado, segundo reportagem do jornal Folha de São Paulo.
O aeroporto foi erguido no município de Cláudio, a 150 quilômetros de Belo Horizonte, em terreno que pertence a Múcio Guimarães Tolentino, de 88 anos, ex-prefeito da cidade. Ele é irmão da viúva de Tancredo Neves, Risoleta Tolentino Neves, morta em 2003. Aécio é neto de Tancredo e Risoleta.
O senador, sua mãe e suas irmãs são proprietários de uma fazenda situada a seis quilômetros do aeroporto. Concluído em 2010, o terminal ainda não foi homologado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para uso público, e o acesso é controlado pelos donos da fazenda. Para pousar ali, é preciso pedir autorização aos filhos de Múcio. Segundo um deles, Fernando Tolentino, a pista recebe pelo menos um voo por semana, e seu primo Aécio usa o aeroporto sempre que passa pela cidade. O senador visita a fazenda da família “seis ou sete vezes” por ano e vai sempre de avião, segundo Tolentino.
A pista tem um quilômetro e condições de receber aeronaves de até 50 passageiros. A obra fez parte de um programa lançado por Aécio para aumentar o número de terminais de pequeno e médio porte. O governo desapropriou a área antes da licitação do aeroporto e até hoje Múcio Tolentino discute na Justiça a indenização. O Estado fez um depósito judicial de mais de R$ 1 milhão pelo terreno, mas o tio de Aécio contesta o valor.
Senador contestou reportagem da Folha
Em nota, Aécio Neves afirmou que a reportagem do jornal Folha de S.Paulo apresenta “diversos equívocos”. Segundo o texto, “o aeroporto foi construído em área pertencente ao Estado, não havendo portanto o investimento publico em área privada”. “De forma incompreensível, o ex-proprietário da área é tratado na reportagem como dono do terreno”, diz o senador.
Além disso, Aécio ressalta que não houve nenhum tipo de favorecimento no projeto, que não se trata de construção de aeroporto, mas de melhorias realizadas em pista de pouso já existente há mais de 20 anos. “O ex-proprietário não concordou com as bases da desapropriação definidas pelo Estado e luta até hoje na Justiça contra elas. Até hoje ele não recebeu nenhum centavo”, continua o texto do senador.
O PT entrou com um pedido de abertura de inquérito para investigar o caso.
Reportagem da Folha de São Paulo, publicada no domingo 20 de julho.