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domingo, novembro 10, 2024

Nunca é Tarde para estudar

Data:

“Ingressei no cursinho Cooperativa do Saber em fevereiro de 2004, onde professores da Unicamp e os próprios alunos lecionam no cursinho. Ganhei uma bolsa de estudos com um bom desconto e tendo uma monitoria onde, por eu ser uma pessoa mais velha, consegui me relacionar melhor com os outros alunos. Vale a pena se expor como eu fiz, pois os adolescentes estavam saindo agora do colégio e eu trinta anos sem estudar, por esta razão me esforçei para conquistar uma vaga. Eram 42 vagas com 20% de desconto, sendo que eu consegui uma delas. O que mais gostei foi o respeito, não me trataram como uma dona de casa e sim, me olhavam diretamente nos olhos. Fui incentivada pela minha filha mais velha, Carolina, a batalhar por uma vaga na universidade.
Em decorrer das minha atividades diárias de dona de casa eu tinha apenas uma hora e meia por dia para me dedicar aos estudos, pelo fato do cursinho ser muito longe da minha residência eu perdia muito tempo para me deslocar, me dificultando ainda mais. Mas a pesar de tudo ser dificilmente administrado eu não desisti e me empenhei, comecei a ler no período da noite e meu esforço foi tão grande que nunca perdi um plantão de estudos e nem uma aula, dando valor as disciplinas.
Nunca havia feito uma faculdade antes, esta será a primeira. Prestei vestibular na Unicamp para medicina quando fiz 18 anos, não passei por apenas dois pontos. Mas passei na faculdade deRibeirão Preto, infelizmente meu pai não podia pagar e esse não era o único motivo, ele não queria que eu fosse para outra cidade. Resolvi trabalhar na biblioteca da Pucc e na Petrobrás, onde conheci meu ex-marido, depois acabei me dedicando à vida de dona de casa.
Tenho um defeito que eu consegui consertar em partes, sou perfeccionista, quis ser a melhor mãe do mundo, a melhor dona de casa, criei isso na minha cabeça para superar a situação de não ter passado em uma Universidade pública. Era muito reconhecida pelo meu esforço, sempre tive boas notas e todos falavam que eu tinha muita capacidade para prestar medicina, onde fiquei com dois pontos a menos do último colocado.
Consegui, entrei no curso de Lingüística da Unicamp em 8º lugar.
Todos os alunos do cursinho admiraram e reconheceram meu esforço e falaram: “Era isso que esperávamos, você deu seu melhor.” Todos me pintaram, me deram trote, me senti uma adolescente novamente.
Tenho muitos objetivos, primeiramente gostaria de trabalhar com tradução da língua francesa, isto é, lingüística aplicada, pretendo ser professora, de preferência de segunda língua, pois domínio francês.
Um projeto que tenho , que não deixa de ser um sonho para mim, é trabalhar com crianças com dificuldades financeiras, deficientes, sem restrições. Seguindo por um mestrado, doutorado e escritora.
Abri mão das minha rotinas, parar de caminhar, o almoço já não era mais o mesmo, tendo a compreensão das pessoas que moram comigo. Não me arrependo de nada, faria tudo novamente e se caso não passasse persistiria mais uma vez, fui em busca do meu sonho”
Cibele Marinho Raizler, tem 51 anos é moradora de Sousas

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