A vacina do sapo é uma prática antiga de algumas tribos indígenas do Brasil e do Peru. Trata-se de uma substância que é retirada da barriga do espécime phyllomedusa bicolor, que também é conhecido por sapo verde ou sapo kambo, e depois é aplicada na primeira camada da pele.
Os índios Katukinas, que habitam a região do Cruzeiro do Sul, no Acre, aplicam o kambo (nome dado a vacina do sapo por eles) há muitas décadas com a finalidade de afastar a “panema”, uma espécie de karma. Usam também para afastar má sorte com a caça ou com as mulheres.
Acredita-se que a substância possui um poder de “limpeza” do corpo, ou seja, em contato com a pele, os anticorpos são alertados se houver alguma coisa de errado no organismo. Já os katukinas, acham que o kambo expulsa maus espíritos que estão trazendo males à saúde.
O sapo kambo é muito difícil de ser capturado. Ele habita a região amazônica e é encontrado somente em épocas de chuva. Vivem no alto das árvores, perto de igarapés e são facilmente confundidos com as folhas. Geralmente são colhidos de madrugada para a retirada de sua substância cutânea. Após retirarem o fluido, os sapos são soltos de novo no habitat. A aplicação da vacina é feita com um cipó, conhecido por “titica”. Com o cipó queima-se a primeira camada da pele, onde não há contato com o sangue, normalmente são cinco ou sete pontos. Coloca-se então a substância nos pontos. A reação é quase que imediata. Uma forte onda de calor, que sobe pelo corpo até a cabeça e a dilatação dos vasos sanguíneos parece provocar uma circulação mais veloz do sangue, deixando o rosto vermelho e, em seguida, pálido. A pressão baixa, podendo provocar náuseas, vômito e/ou diarréia durante cerca de 15 minutos. Sensação desagradável, que aos poucos retorna a normalidade, e a pessoa se sente mais leve, como se tivesse feito uma boa limpeza, causando uma maior disposição\”.
Tudo isso se dá pela dermorfina e pela deltorfina, substâncias mais fortes do que a morfina. Estudos mostraram que essas duas substâncias possuem propriedades antibióticas e apresentaram grande resultado no tratamento do Mal de Parkinson, Aids, câncer e demais doenças.
Atraído pela cultura dos Katukinas, o economista Armando Gonçalves, 41 anos, foi até o Acre para a aplicação do kambo. No caminho da tribo um sapo kambo apareceu em seu ombro, uma coisa rara de se acontecer. Era o sinal para que Armando tomasse a vacina. “Senti o meu corpo quente e meu estômago estranho. Suei muito”, diz o economista. Após essa aplicação no Acre, Armando tomou a vacina mais sete vezes com um especialista em São Paulo, onde mora. “Não consegui curar uma dor que tenho atrás da perna, mas o kambo me ajudou a enxergar o ambiente e as coisas vivas de outra maneira. “Valeu a pena”, diz Armando.
Outro que teve sua curiosidade despertada pela vacina foi o aposentado Osvaldo Ferreira de 54 anos. Osvaldo possui alergia crônica e havia ouvido falar que a “tal vacina curava tudo”. Fez a aplicação com um especialista em sua cidade, Campinas. Porém, o aposentado não teve uma experiência boa. “Senti meu estômago revirar. “Pensei que fosse morrer, foi terrível”, relata Osvaldo, que não sentiu nenhuma melhora e nem alteração.
O kambo é pouco conhecido em nossa medicina, só foram iniciados estudos na década de 80, por isso existem duvidas sobre seu efeito terapêutico. Mas até hoje não foi relatado nenhum caso de morte pela vacina.
Tiago Campos
A vacina do sapo
Data: