O senador Cristovam Buarque, presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, embarcou para Macapá, onde vai averiguar pessoalmente as denúncias sobre a utilização de ribeirinhos da comunidade de São Raimundo do Pirativa – vilarejo pertencente ao município de Santana (18 quilômetros de Macapá) como cobaias humanas.
O promotor de Justiça, Haroldo Franco, o autor da denúncia sobre o uso de cobaias humanas na pesquisa que estuda a malária.
O estudo é coordenado pelo pesquisador Robert Zimmerman do Departamento de Entomologia da Universidade da Flórida, tendo como co-investigadores a pesquisadora Mércia Arruda, do Departamento de Imunologia do CpqAM, Allan Kardec Gallardo, da Funasa, além de pesquisadores do Departamento de Entomologia da USP.
Allan Kardec e Robert Zimmerman foram os dois pesquisadores que mantiveram contato direto com os ribeirinhos, sendo que o primeiro se identificou como o coordenador local da pesquisa nas três comunidades ribeirinhas onde foi realizada a captura e a alimentação dos mosquitos transmissores da malária com sangue humano.
Há mais de dois meses, nem Allan Kardec nem Robert Zimmerman aparecem em São Raimundo do Pirativa onde foi instalado o laboratório que preparava os mosquitos para serem estudados. Desde que foi abandonado pelos pesquisadores, o laboratório permanece fechado.
A pesquisa também envolvia a Universidade da Flórida, a Universidade de São Paulo (USP), a Secretaria de Vigilância em Saúde do Amapá e Fundação Nacional de Saúde (Funasa). A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, decidiu pela \”imediata suspensão da pesquisa, até que sejam apuradas as denúncias\”.
Como presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Cristovam Buarque apresentou requerimento convocando o ministro da Saúde, Saraiva Felipe, o ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende, para prestarem esclarecimentos sobre o assunto, além do pesquisador Allan Kardec; o promotor Haroldo Franco; o presidente do Conselho Regional de Medicina, Dardeg Aleixo e a líder da comunidade de São Raimundo, Maria Siqueira.
Os contratos foram assinados pelos homens contratados como cobaias no Amapá, sem ao menos terem sido lidos, já que a maioria dos ribeirinhos é analfabeta.
Os ribeirinhos que participaram da pesquisa estão arrependidos de terem se tornado cobaias humanas. O agricultor Socorro Pinto Ribeiro, foi um deles e relata as horas de agonia que passou. “O mosquito picava e doía muito. A gente ficava com ‘nozinhos’ nos braços e pernas. Não valeu a pena, pois peguei malária. Mas, na época precisava do dinheiro”.
O também agricultor Francisco Siqueira, disse que era preciso trabalhar à noite, horário em que o mosquito costuma sair para buscar comida: “Eram muitos mosquitos. Não tenho idéia de quantos. Quando eu fiz o exame o resultado foi positivo, mas eu não senti os sintomas da malária. Não quero mais, vou cuidar no meu serviço que é de agricultor. A gente recebia muito pouco para sofrer tanto”.
Adelson Pinto Ribeiro, outro morador de Raimundo de Pirativa, afirmou: “Foi uma experiência muito ruim. Ver aqueles mosquitos picando, dói né. Muito ruim mesmo. Nos éramos muitos. A gente pegava mosquito até às 21 horas. Depois, os homens levavam para pesquisar, marcavam os mosquitos e aí voltavam com eles dentro de copos para a gente alimentar eles (com o próprio sangue). Fiz porque precisava de dinheiro”.
A líder da comunidade, Maria Siqueira, informou que todos que participaram da pesquisa foram contaminados pela malária. “Eles ficaram desnutridos e os R$ 10 não dava para pagar nem os remédios que eles precisaram tomar”, denunciou. Além disso, os participantes da pesquisa não receberam nenhum atendimento médico proporcionado pelos coordenadores locais da pesquisa, como estava explícito no contrato, sendo necessário gastar recursos da própria comunidade para chegar ao hospital mais próximo.
