Pedro J. Bondaczuk
O escritor Alberto Morávia traz à baila uma questão que poucos compreendem em toda a sua extensão. Afirma: \”O fazer muda o mundo. A palavra que não se torna fato, nada muda\”. Concordo que agir é importante. Mas refletir também é. E um não pode estar separado do outro.
Tenho comigo que ação e reflexão são duas faces de uma mesma moeda. Ambas se complementam. Agir sem pensar, apenas na base do impulso, tem levado muita gente a situações de impasse, que às vezes nem têm retorno. Por outro lado, o pensamento puro, sem que seja acompanhado dos devidos atos que o consubstanciem em obras, é inócuo. Não produz o mínimo resultado e é pura perda de tempo.
Há quem diga que ambos podem vir desacompanhados. Os impulsivos entendem que se pode agir antes e pensar depois. Dão valor excessivo, quase que exclusivo, à ação, mesmo que desordenada e caótica. Estão errados. Os introspectivos, por seu turno, apregoam o contrário. Equivocam-se. A experiência mostra que, na guerra ou na paz, no bem ou no mal, ambos devem andar sempre juntos.
O poeta alemão Johann Wolfgang Göethe diz que \”se você pensa que pode ou sonha que pode, comece. Ousadia tem genialidade, poder e mágica. Ouse fazer e o poder lhe será dado\”. O conselho cabe aos que se limitam a elucubrações, aos indecisos, aos que, mesmo intuindo o caminho das grandes realizações, não têm a coragem de tentar, de ousar, de começar.
São tão inseguros, que muitas vezes sequer comunicam suas idéias e sonhos aos demais (e a comunicação é uma forma de ação), temendo ser ridicularizados. Transformam o raciocínio em algo vazio, inútil, morto, exclusivo, pessoal, que se esgota em si próprio.
No outro extremo estão os impulsivos. São os que acreditam apenas na força de seus músculos. Acham que o raciocínio, o planejamento, a preparação prévia de qualquer tarefa é perda de tempo. Levantam edifícios sem saber se os fundamentos irão suportar o peso da estrutura. E estes, obviamente, desmoronam.
Suas ações tendem, invariavelmente, ao fracasso. Findam por ser inócuas, sem conseqüência prática, perdulárias, quando não desastradas. Reflexão e ação, portanto, nunca podem andar desacompanhadas, pois são o que caracterizam o homem como ser racional. Para produzir determinadas obras, a emoção até pode ser dispensável (embora não quando se trata de arte).
William James afirma: \”Até agora pensava-se que, para agir, era preciso sentir. Sabe-se, hoje, que se começarmos a agir, o sentimento aparece. Essa foi, para mim, a descoberta mais importante do século, para o desenvolvimento humano\”.
A ausência de sentimento, contudo, não implica na falta do raciocínio, da reflexão, do planejamento. E (porque não?) do sonho. Antes de se fazer algo, é preciso que se saiba da sua finalidade. Qual o motivo da ação? A seguir, convém definir o \”como\” fazer ou agir. Devemos avaliar se estamos preparados, se somos aptos, se \”sabemos\” executar a ação que se espera de nós.
Nossas aptidões são limitadas. Nossas forças e nossos conhecimentos igualmente têm limitações. Não sabemos e nem podemos tudo. Esta é uma reflexão mínima que o bom senso nos recomenda que façamos antes de entrarmos em alguma empreitada, seja de que natureza for.
Retroceder quando a tarefa a executar for muito superior à nossa capacidade não é demérito para ninguém. E há outros tipos de ação, nessas circunstâncias, que podemos exercer para influenciar alguém a agir naquelas situações em que não podemos. Esta influência é também um tipo de ação e dos mais relevantes.
O verdadeiro herói é aquele que conhece seus limites e está disposto a atingir essa marca, mas jamais a ultrapassar. Se o fizer, não estará praticando um gesto de heroísmo, mas de temeridade, de irresponsabilidade, de suicídio.
O ateniense Tucidides deixou registrado: \”Os mais bravos são, certamente, aqueles com visão mais clara daquilo que têm diante de si, seja glória ou perigo, e não obstante seguem para enfrentá-lo\”. Ou seja, agem de forma refletida, sabendo o que terão que superar. Farão o que for necessário.
Se concluírem que o sacrifício de suas vidas for indispensável e suficiente para salvar sua família, sua cidade ou sua nação, não terão dúvidas. Mas não o farão de maneira inútil, apenas para exibir um heroísmo distorcido e que no fundo não passa de tendência suicida.