Enquanto o Banco Central dos EUA reduz juros, Brasil segue com taxa básica em patamar recorde, refletindo cautela com pressões de energia e incertezas fiscais
POR SANDRA VENANCIO
BRASÍLIA (DF) — O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) realiza nesta quarta-feira (4) a penúltima reunião do ano, com expectativa unânime do mercado pela manutenção da Selic em 15% ao ano — o maior nível em quase duas décadas. A taxa, que serve de referência para o custo do crédito e dos investimentos no país, permanece no topo do ranking global de juros reais, mesmo com a inflação em desaceleração e o cenário externo de cortes monetários.
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Atualmente, o Brasil tem uma das taxas básicas mais caras do mundo. Desde setembro do ano passado, a Selic subiu sete vezes consecutivas, atingindo o maior patamar desde 2006, quando estava em 15,25%. A decisão sobre a manutenção será anunciada pelo Copom no início da noite.

Segundo a ata da última reunião, o colegiado deve manter a política monetária restritiva “por período prolongado”, diante da combinação de pressões setoriais, como a alta da energia elétrica, e incertezas fiscais internas.
De acordo com o Boletim Focus, divulgado pelo BC, a expectativa do mercado é de que a taxa permaneça em 15% até o fim de 2025, com início de cortes graduais apenas em 2026. O documento também aponta inflação projetada de 4,55% para 2025, dentro do intervalo de tolerância do novo regime de meta contínua, mas ainda acima do centro da meta de 3%.
O IPCA-15, prévia da inflação oficial, ficou em 0,18% em outubro, acumulando 4,94% em 12 meses. A queda no preço dos alimentos vem compensando parte da alta da energia e dos serviços, mas a autoridade monetária avalia que o processo de desinflação ainda é frágil.
Enquanto isso, no cenário internacional, os Estados Unidos reduziram sua taxa de juros, sinalizando o fim do ciclo de aperto monetário iniciado em 2022. A decisão do Federal Reserve reforça a percepção de que o Brasil mantém juros reais elevados em comparação ao restante do mundo, o que ajuda a conter a inflação, mas freia o crescimento econômico e encarece o crédito para empresas e famílias.
O Copom, que se reúne a cada 45 dias, deve divulgar também novas sinalizações sobre o ritmo de política monetária para 2026. Analistas apontam que o BC busca equilíbrio entre evitar uma nova pressão inflacionária e não prolongar o desaquecimento da economia.
A próxima e última reunião do Copom neste ano ocorrerá em dezembro, quando o colegiado apresentará a última ata de 2025 e poderá indicar o momento em que começará o esperado ciclo de redução da Selic.




