Em depoimento aos vereadores da Comissão Processante instalada na Câmara Municipal de Campinas para decidir sobre o pedido de cassação do prefeito Hélio de Oliveira Santos, o ex-presidente da Sanasa, Luiz Augusto Castrillon de Aquino disse que diversas vezes participou de reuniões na casa do prefeito para a partilha de dinheiro arrecadado com o esquema de cobrança de propina – numa operação que ele chamou de “ordenha”.
“Me encontrava com a Doutora (a 1ª dama Rosely Nassim Santos) em três locais para o que se dizia no jargão, “fazer a ordenha” (recolhimento do dinheiro arrecadado com a corrupção). No quarto andar (da Prefeitura); no escritório dela na Nova Campinas, e na casa dela. Em diversas oportunidades o prefeito estava na casa, mas não participava da reunião. Ele também nunca perguntou detalhes (sobre os encontros) e eu também nunca falei com ele (sobre motivo das reuniões).
Segundo Aquino, em geral, o dinheiro era entregue em espécie. “Diria que com muita frequência eram valores acima de R$ 100 mil. Os pacotes eram entregues à Dra. Rosely em maletas. Ela conferia as cabeças (as notas que vinham por cima nos pacotes) e várias vezes vi ela entregar para o Cândia” (Ricardo Cândia, ex-diretor de Planejamento da Prefeitura).
Ele também reiterou as denúncias feitas na Justiça segundo as quais, as propinas cobradas variavam de 5% a 7% para contratos e execução de obras e de 10% a 11% para contratos de prestação de serviços.
Aquino disse considerar “impossível” que o prefeito não tivesse conhecimento do esquema. Disse também não acreditar que ele desconhecesse irregularidades no sistema de liberação de empreendimentos. “Ele sabia o que estava acontecendo. Ele controla com detalhes a Administração. É profundo nas cobranças e não aceita ver nada superficialmente”, afirmou.
O empresário do setor imobiliário Ilário Bocalleto – que prestou depoimento na condição de testemunha de acusação – confirmou o pagamento de propina na liberação de empreendimentos. Segundo ele, “não há empreendimento aprovado em Campinas sem pagamento de propina”, disse.
O PREFEITO – No seu depoimento, ocorrido pela manhã, o prefeito se defendeu. “Não existe escuta ou grampo que mostrem que estou envolvido judicialmente”, disse. “Nunca tive conhecimento de irregularidades em contratos”, acrescentou.
Hélio disse não ver problemas no fato de colocar no primeiro escalão do governo, pessoas que tivessem respondido a processos na justiça por improbidade administrativa. O prefeito explicou que ao escolher secretários e auxiliares de primeiro escalão leva em conta a capacidade técnica. “Não faço pré-julgamentos”, argumentou. Por fim, transferiu responsabilidades: disse que a liberação de empreendimentos era atribuição do ex-secretário de Urbanismo, Hélio Jarreta.
O prefeito defendeu a mulher. “Minha mulher não conversa com esquemas fraudulentos”, garantiu. Disse que Rosely foi “linchada publicamente” sem ter tido direito de defesa. Hélio disse estar vivendo “um purgatório”, mas aposta que conseguirá demonstrar que não tem envolvimento com as denúncias.
OUTROS DEPOIMENTOS – Além de Hélio, Aquino e Ilário , prestaram depoimentos nesta quarta-feira, o atual secretário de urbanismo, Luis Yabiku (chamado pela acusação), a presidente da Setec, Tereza Dóro; o atual presidente da Sanasa, Lauro Pérciles Gonçalves e o secretário de Assuntos Jurídicos, Antonio Caria Neto. Estes três últimos foram ouvidos a pedido da defesa do prefeito.
A partir de agora, a Comissão Processante vai analisar os depoimentos e decidir se haverá a necessidade de produção de novas provas. O relatório da Comissão Processante deverá ser concluído na segunda quinzena de agosto para então ser levado a votação em plenário. Para ser aprovado o impeachment do prefeito será necessário quórum de dois terços (22 dos 33 vereadores da Casa).
