Disputa entre PCC e Comando Vermelho provoca aumento de homicídios e clima de medo em cidade estratégica do estado
Por Redação Jornal Local
A cidade de Rio Claro, com pouco mais de 200 mil habitantes e localização privilegiada no coração do estado de São Paulo, tornou-se palco de uma disputa sangrenta entre as principais facções criminosas do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). O conflito, motivado pelo controle do tráfico de drogas, tem levado a uma escalada de homicídios e espalhado medo entre os moradores.
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De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o município registrou 24 homicídios dolosos em 2025, sendo oito execuções. O número representa aumento de 26,3% em relação ao ano anterior e coloca a cidade com um índice de 11,9 assassinatos por 100 mil habitantes, quase três vezes acima da média estadual, atualmente em 4,09.

Investigações conduzidas pelo Ministério Público e pela Polícia Civil indicam que o crescimento da violência está diretamente ligado à disputa territorial entre facções. Documentos de inteligência obtidos pelas autoridades apontam que Rio Claro tornou-se um ponto estratégico de passagem para o escoamento de drogas e armamentos devido à sua proximidade com as rodovias Anhanguera, Bandeirantes e Washington Luís, três das mais movimentadas do estado.
Segundo investigadores, a cidade tem um histórico peculiar no cenário criminal paulista: nunca houve uma facção dominante absoluta. Embora o PCC controle a maior parte do tráfico em São Paulo, em Rio Claro sua influência é mais frágil e fragmentada, abrindo espaço para grupos locais e dissidências. Esse vácuo de poder resultou em novas alianças e confrontos, sobretudo com a chegada de integrantes do Comando Vermelho, que tenta expandir sua presença no interior.
Um relatório de inteligência da polícia revela que, em março deste ano, foi descoberta uma base logística ligada ao CV em Hortolândia, cidade vizinha. O local, segundo os investigadores, servia de ponto de apoio para o deslocamento de drogas e armas entre Rio de Janeiro e Rio Claro, reforçando a ofensiva da facção carioca sobre o território tradicionalmente controlado pelo PCC.
Um dos grupos que emergiram nesse contexto é o chamado “Bonde do Magrelo”, formado por ex-integrantes do PCC que romperam com a facção e passaram a colaborar com o CV. A atuação desse grupo estaria por trás de parte das execuções registradas neste ano, segundo fontes da Polícia Civil.
Em entrevista, o delegado seccional de Rio Claro, Paulo César Junqueira Hadich, afirmou que o aumento da violência tem relação direta com a guerra pelo tráfico. “Temos homicídios com motivações diversas, mas uma parcela importante deles está associada à disputa por território e poder entre organizações criminosas”, explicou.
O avanço das facções vem afetando diretamente a rotina dos moradores. A sensação de insegurança aumentou e há relatos de mudanças de comportamento por parte da população. “A gente percebe que a violência cresceu muito. Em alguns bairros e horários, já é preciso redobrar a atenção”, contou um comerciante que vive na cidade há mais de duas décadas. Segundo ele, os roubos também aumentaram, inclusive na região central.
Rio Claro, que abriga um importante campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e tem PIB per capita de R$ 63,2 mil, sempre foi referência em pesquisa, indústria e agronegócio. Mas agora, o município aparece nos relatórios de segurança pública como um dos novos pontos de tensão do interior paulista, um reflexo direto da disputa entre o crime organizado e o enfraquecimento do controle territorial do PCC.
Para as autoridades, a situação exige ações conjuntas e integradas entre polícias estaduais e federais. “A ausência de hegemonia criminosa cria um cenário volátil, onde qualquer movimento pode deflagrar novos conflitos”, avaliou um promotor ouvido pela reportagem.
Enquanto o poder público busca uma estratégia de contenção, Rio Claro convive com uma violência que rompeu fronteiras e desafia a estrutura de segurança do estado — uma guerra silenciosa, travada em becos e rodovias, por quem disputa o domínio de um mercado bilionário.




