Participação inédita de um chefe de Estado brasileiro no encontro em Kuala Lumpur eleva o Brasil no palco regional e abre caminho para acordos estratégicos em tecnologia, comércio e diplomacia
Por Sandra Venâncio
Neste domingo (26 / 10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve presente na abertura da 47ª Cúpula da ASEAN em Kuala Lumpur, Malásia — marcando a primeira vez que um presidente brasileiro participa da cerimônia de abertura do bloco. A presença destacou o crescente interesse mútuo entre o Brasil e os países do Sudeste Asiático em aprofundar cooperação, comércio e desenvolvimento.
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Relações com a Ásia
A reunião da 47ª Cúpula do bloco da Association of Southeast Asian Nations (ASEAN), sediada na Malásia, teve lugar num momento de redesenho geopolítico e redirecionamento de cadeias de valor, em que parceiros fora da Ásia buscam reforçar laços com a região.

O Brasil — que desde 2022 é “Sectoral Dialogue Partner” da ASEAN e já mantinha presença institucional na região — sobe de patamar: ao enviar o presidente, sinaliza que vê a Ásia-Pacífico como prioridade estratégica.
Principais destaques do evento
- A Malásia, como país-presidente da ASEAN neste ciclo, convidou Lula como representante de país convidado — ato simbólico de reconhecimento da aproximação entre Brasil e bloco.
- Na ocasião, o Brasil foi mencionado por Lula como interessado em “aprofundar laços de cooperação, comércio e desenvolvimento”.
- A visita à região antecedeu encontros bilaterais: na Indonésia e na Malásia foram firmados instrumentos de cooperação nas áreas de tecnologia, semicondutores, inovação, espacial, agricultura e diplomacia — o que reforça que a agenda vai para além da simples diplomacia cerimonial.
- Comercialmente, ressaltou-se o crescimento do intercâmbio com a Malásia, com destaque para exportações brasileiras em minério de ferro e petróleo bruto, o que demonstra novos vetores fora dos mercados tradicionais europeus.
Relevância para o Brasil
- A participação coloca o Brasil como parceiro latino-americano da Ásia de modo mais visível, abrindo canais de cooperação multissetorial.
- Pode abrir acesso a novos mercados para empresas brasileiras no Sudeste Asiático, bem como atrair investimentos asiáticos para o Brasil.
- Reforça o discurso brasileiro de diversificação geográfica nas parcerias comerciais, reduzindo dependência de alguns blocos ou regiões.
- Em termos diplomáticos, dá ao Brasil um papel mais ativo no Indo-Pacífico, ampliando sua projeção internacional.
Fatos econômicos de destaque
Segundo dados oficiais, o comércio bilateral Brasil-Malásia alcançou em setembro de 2025 cerca de US$ 487,2 milhões, com exportações brasileiras de US$ 346,4 milhões e importações de US$ 140,9 milhões. Em 2024, o fluxo chegou a US$ 5,8 bilhões, com superávit de US$ 2,7 bilhões para o Brasil.
Os principais produtos exportados foram minério de ferro (37 %) e óleos brutos de petróleo (28 %).
Âmbito investigativo: o que observar a médio prazo
- Quais serão os instrumentos concretos de cooperação que resultarão desse novo momento (ex: acordos de investimento, protocolos de tecnologia, abertura de mercado para produtos brasileiros).
- Como se dá, na prática, a entrada de empresas brasileiras e de novas cadeias produtivas em países da ASEAN, e quais são as barreiras enfrentadas.
- De que forma o Brasil usará essa aproximação para diversificar parcerias que historicamente se voltavam para Europa e América do Norte.
- Qual será o papel brasileiro no fórum da ASEAN e se haverá uma presença mais institucionalizada (ex: missão permanente ampliada, participação em comitês técnicos etc.).
- A reação dos atores asiáticos frente à incursão ampliada brasileira — se verá o Brasil como opção complementar ou concorrente em setores estratégicos (como commodities, agro-negócios, tecnologia).
ASEAN
A presença de Lula na cúpula da ASEAN marca mais do que um gesto simbólico: representa o Brasil assumindo com clareza uma agenda de parceria com o Sudeste Asiático. Agora, o desafio será convertir esse movimento diplomático em resultados concretos — de comércio, tecnologia, investimento e colaboração estratégica — que beneficiem a economia brasileira e reforcem seu papel no tabuleiro global.




