Esquema teria operado dentro da 1ª Delegacia do Barreiro, em Belo Horizonte; sindicato aponta falhas na custódia de provas
Por Sandra Venancio
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) apura o desaparecimento de cerca de 220 armas de fogo que estavam sob a guarda da instituição e deveriam permanecer armazenadas como material apreendido em investigações anteriores. O caso veio à tona após um suspeito ser flagrado com uma arma que já constava nos registros da corporação como apreendida e sob custódia oficial.
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A descoberta levou à abertura de um inquérito interno para investigar um possível esquema de desvio de armamentos que, segundo fontes ligadas à apuração, pode envolver servidores lotados na 1ª Delegacia do Barreiro, no bairro Jardinópolis, em Belo Horizonte.

Uma servidora pública suspeita de participação direta nas irregularidades foi presa neste domingo (9), em uma ação conduzida pela Corregedoria da Polícia Civil. O nome da funcionária não foi divulgado oficialmente.
Armas desaparecidas e falhas no controle
Os investigadores ainda não detalharam os tipos de armamentos extraviados, mas indicaram que a maior parte é formada por armas de baixo calibre, muitas delas antigas e consideradas obsoletas. Mesmo assim, a perda representa uma falha grave no controle do material bélico sob responsabilidade do Estado.
De acordo com informações apuradas pela reportagem, o suposto desvio foi identificado durante uma ocorrência de rotina em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ao consultar o número de série de uma arma apreendida, os policiais descobriram que o armamento já constava como confiscado em outra investigação e deveria estar guardado nas dependências da delegacia.
A checagem posterior revelou um rombo muito maior: centenas de armas haviam simplesmente desaparecido do acervo sob custódia da Polícia Civil.
Investigação interna em andamento
Em nota, a Corregedoria informou que o processo disciplinar e criminal está em estágio avançado e que medidas administrativas já foram adotadas para impedir novos desvios.
O delegado-geral da instituição, Rômulo Dias, divulgou um vídeo à imprensa reforçando que a corporação “mantém o compromisso com a transparência, o rigor e a legalidade”, e que os envolvidos serão responsabilizados.
Segundo ele, o episódio “fere a confiança da sociedade e exige resposta firme para preservar a credibilidade da instituição”.
Ausência de centrais de custódia é apontada como causa
O Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol) atribuiu parte da responsabilidade pela falha à falta de Centrais de Cadeia de Custódia no estado. Previstas na Lei nº 13.964/2019, conhecida como Pacote Anticrime, essas unidades deveriam centralizar o armazenamento e o controle de todos os materiais apreendidos pelas forças de segurança, incluindo armas, drogas e documentos.
O presidente do sindicato, Wemerson Oliveira, afirmou que a inexistência dessas estruturas facilita desvios e dificulta a rastreabilidade das provas.
“Essas armas não deveriam estar guardadas em delegacias. A verba para a construção da central nunca foi liberada, e isso coloca em risco a integridade de todo o material apreendido”, declarou.
Segundo Oliveira, a central ficaria sob responsabilidade do Instituto de Criminalística, o que reduziria a manipulação dos materiais por agentes não especializados e aumentaria a transparência do processo.
Sem resposta oficial
Até a última atualização desta reportagem, nem a Polícia Civil nem o governo de Minas Gerais haviam se manifestado sobre as críticas do sindicato ou sobre o prazo para implantação das Centrais de Custódia.
A Corregedoria segue analisando registros, sistemas de controle e câmeras internas da delegacia. A expectativa é que novas prisões e afastamentos possam ocorrer nos próximos dias, à medida que o inquérito avance.




