Tribunal militar avaliará se condenados por articulações golpistas manterão postos e prerrogativas, em procedimento inédito desde a redemocratização
A decisão do ministro Alexandre de Moraes de encaminhar ao Superior Tribunal Militar a comunicação oficial sobre a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de ex-integrantes da cúpula das Forças Armadas abriu uma nova fase no processo que avalia as consequências disciplinares dos militares envolvidos na tentativa de golpe de Estado.
>> Siga o canal do Jornal Local no WhatsApp
A partir do envio, cabe ao STM analisar se Bolsonaro, capitão reformado do Exército, e os oficiais Almir Garnier Santos, almirante de esquadra, Paulo Sérgio Nogueira, Augusto Heleno e Walter Braga Netto, generais de Exército, continuarão a manter posto e patente após a decisão do Supremo Tribunal Federal.
O procedimento é previsto na legislação militar e determina que, quando um oficial é condenado por crime comum ou militar, o STM precisa deliberar se ele ainda preenche as condições de permanência na carreira. A análise não revisa o mérito da condenação do STF. O tribunal avalia exclusivamente os aspectos relacionados à idoneidade moral e profissional exigidos para ocupação de cargos militares e à compatibilidade entre a conduta descrita nos autos e as obrigações vinculadas à hierarquia e disciplina.

A eventual perda de patente dos oficiais condenados representa um movimento institucional de grande alcance. Desde a redemocratização, nenhum militar de alta patente foi expulso por envolvimento em tentativa de ruptura constitucional. O STM deverá avaliar documentos enviados pelo Supremo, os fundamentos das condenações e os dispositivos legais que tratam da exclusão de oficiais. Entre os critérios analisados estão o tipo de crime, a gravidade dos fatos para a segurança nacional, a repercussão institucional e a preservação da confiança interna no comando das Forças Armadas.
No caso de Bolsonaro, embora reformado, o STM precisa deliberar porque ele mantém a condição de oficial do Exército, com direitos e prerrogativas associados ao posto de capitão. Já no caso de Garnier, Paulo Sérgio, Heleno e Braga Netto, a eventual perda de patente representaria o desligamento completo dos quadros, com efeitos administrativos permanentes. A decisão do STM é tomada por maioria simples e tem caráter definitivo no âmbito militar. A análise pode resultar na manutenção da patente, em sanções disciplinares acessórias ou na exclusão total do oficial do serviço ativo e inativo, conforme precedentes da Corte.
O processo tende a seguir três etapas: chegada da comunicação do STF, distribuição para relatoria e análise colegiada. Especialistas que acompanham o tema afirmam que o STM deverá priorizar o caso devido ao impacto institucional. O tribunal poderá solicitar informações adicionais, ouvir representantes do Ministério Público Militar e consultar normas internas, mas não revisará provas nem reabrirá depoimentos.
A decisão ocorrerá em um contexto de reorganização interna das Forças Armadas, com atenção à responsabilidade disciplinar e às repercussões externas. A eventual expulsão de oficiais de alta patente por envolvimento em ações destinadas a interferir no processo eleitoral teria efeitos duradouros na doutrina, no ensino militar e nos protocolos internos de controle.
Nos próximos meses, o STM deverá definir o calendário de análise e anunciar se pedirá manifestações complementares do Ministério Público Militar. A decisão final terá impacto direto na responsabilização institucional dos envolvidos e pode estabelecer novo entendimento sobre os limites de atuação política de militares da ativa e da reserva.




