Governador tenta apagar crise política e busca acordo com o presidente do Supremo, Edson Fachin, em meio a cobrança de R$ 9,8 bilhões por sonegação no setor de combustíveis
Por Sandra Venancio
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desembarcou em Brasília nesta terça-feira (28) em uma tentativa clara de reaproximação com o Supremo Tribunal Federal (STF).
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Em meio à pressão por um rombo bilionário na arrecadação de ICMS do setor de combustíveis, Tarcísio marcou uma audiência com o novo presidente da Corte, ministro Edson Fachin, para discutir o impasse tributário que já ultrapassa R$ 9,8 bilhões em débitos.

Será o primeiro encontro oficial entre os dois desde que Fachin assumiu a presidência do STF, no fim de setembro. Tarcísio, no entanto, não compareceu à cerimônia de posse — preferiu visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que cumpre prisão domiciliar em Brasília.
A ausência foi mal recebida por ministros do Supremo e até por aliados de direita, interpretada como um gesto de fidelidade política ao bolsonarismo em detrimento da institucionalidade.
Bolsonaro acuado e o STF no centro do tabuleiro
A reunião ocorre num momento politicamente explosivo: o Supremo está prestes a executar a pena de Jair Bolsonaro, após o fim do prazo para a defesa apresentar os últimos recursos no inquérito do golpe.
Nos bastidores, ministros consideraram o gesto de Tarcísio um “erro de cálculo político” — e a visita a Fachin, uma tentativa de apagar o desgaste.
O bilhão em jogo e a pressão do setor
O governador levou à mesa um tema urgente — a sonegação de ICMS no mercado de combustíveis, que o Palácio dos Bandeirantes classifica como “fraude sistêmica” envolvendo redes de distribuidoras e empresas fantasmas em vários estados.
De acordo com a Procuradoria-Geral do Estado, os prejuízos somam quase R$ 10 bilhões e já comprometem programas sociais e investimentos públicos.
A procuradora-geral Inês Coimbra acompanhou o governador na reunião e defendeu uma decisão unificada do STF sobre o tema, capaz de padronizar a cobrança e evitar disputas judiciais entre as unidades da federação.
Aproximação tática com Fachin e isolamento de Tarcísio no centrão
A viagem a Brasília também tem leitura política. Tarcísio tenta reconstruir pontes com ministros do Supremo, após críticas internas no Republicanos e alertas do centrão sobre o risco de isolamento.
Fontes próximas ao STF confirmaram que o governador vinha sendo “ignorado” em agendas de peso desde sua ausência na posse de Fachin.
Com a nomeação próxima, analistas políticos veem a visita de Tarcísio como um gesto de sobrevivência política.
“O governador percebeu que o vento institucional está mudando. Aproximar-se do STF, neste momento, é mais do que diplomacia — é autopreservação”, avalia um integrante da base governista paulista.
O gesto de Tarcísio marca uma mudança de estratégia dentro da ala bolsonarista.
Com Bolsonaro em queda e o cerco jurídico se fechando, governadores e parlamentares do entorno da direita começam a reposicionar o discurso, buscando institucionalidade e diálogo com o Supremo que até pouco tempo chamavam de “ativista”.
A reunião com Fachin, embora tenha como pauta o ICMS, representa muito mais do que um debate fiscal — é um movimento político de reacomodação no pós-Bolsonaro.




