Pedro J. Bondaczuk
O tempo pode ser comparado a uma esteira rolante, dessas que existem nas linhas de montagem das modernas indústrias. Rola, sem cessar, a uma velocidade sempre uniforme, e leva consigo nossas ilusões, sonhos e ideais (que têm que ser constantemente renovados para sobreviver), nossas alegrias e tristezas, nossos sucessos e fracassos e nosso entusiasmo ou nossa frustração. E um dia, quando menos esperamos…zás! Nos leva também!
Os problemas que aguardam a humanidade, num futuro que pode ser próximo ou remoto, ninguém logicamente sabe quando (e isto se, num assomo de loucura, algum imbecil não apertar o fatídico botão que deflagre o holocausto nuclear) são, no mínimo, apavorantes.
A população do Planeta cresce numa proporção estonteante, o que reduz os espaços, há não muito fartos e faz com que “encolham” de forma perigosa. A capacidade de produção de alimentos, para sustentar esse crescente aumento populacional, já está quase no limite máximo. Corre-se o risco real de faltar água potável para todos. Rios, mares, lagos e fontes estão cada vez mais poluídos. O ar torna-se, a cada dia que passa, cada vez mais irrespirável. A temperatura média do Planeta cresce de ano para ano.
Pela primeira vez na História, o ser humano detém em suas mãos (nada confiáveis) o poder de destruir o mundo num piscar de olhos. Doenças antigas são erradicadas, mas outras, muito mais letais e misteriosas (como o Ebola, a Aids e a gripe aviária, por exemplo), surgem, como que do nada. É mister que não se esqueça que a gripe espanhola, cuja origem e natureza não foram bem explicadas até hoje, dizimou 18 milhões de pessoas ao redor do Planeta.
Certamente, o engenho dos pesquisadores vai encontrar solução para esses males. Isso ocorrerá, todavia, em decorrência do esforço concentrado de milhares de indivíduos e não, como os néscios supõem, por causa da passagem do tempo, porque “o futuro vai chegar”. Ele chega e se vai, desde o mais remoto passado (o da origem do universo) a cada segundo que passa, mesmo que não venhamos a nos dar conta.
O tempo, pois, reitero, é como uma esteira rolante diante da qual estamos, num determinado ponto da sua passagem. A parte que já passou por nós de forma alguma vai voltar. O que está à frente, o futuro, a cada piscar de olhos ou bater de asas de um beija-flor se transforma em passado. E o que passa velozmente diante de nós, com tamanha rapidez que sequer o percebemos, é o presente, fugaz, invisível e imensamente volátil. E isto enquanto pudermos permanecer diante da esteira porque, num determinado prazo, que não temos a mínima possibilidade de conhecer qual é, teremos de sair definitivamente dali.
Não há, portanto, momentos inúteis, vazios, ociosos, cuja perda possamos recuperar. Todos eles, sem exceção, são irrecuperáveis. Nós é que quase nunca sabemos como equacionar o tempo. Preenchemo-lo, via de regra, com banalidades, fatuidades e tolices. Jogamos fora, na maior ingenuidade, esse que é o nosso maior capital.
Há pessoas que parecem que já nasceram cansadas ou entediadas. Do que mais elas falam e o que mais buscam são o descanso e o lazer. Bem dosados, ambos têm, evidentemente, seu espaço. Mas é indispensável que jamais se erre na medida. O poeta dinamarquês Piet Hein, no poema “Cura para a exaustão”, aborda com propriedade a questão, ao revelar: “Algumas vezes, exausto/da labuta costumeira,/quisera poder dormir/uma eternidade inteira./Mas então penso melhor,/esqueço luta e canseira:/muito breve farei isso,/quer eu queira quer não queira”.
A época em que vivemos é caracterizada, sobretudo, pela pressa. Quase nunca, todavia, esse afã é o de produzir soluções para problemas existenciais, individuais e coletivos, que se arrastam há séculos, quando não milênios. Enquanto os avanços tecnológicos viajam em jatos várias vezes mais velozes do que o som, os humanísticos caminham a passos de tartaruga, e das mais lerdas, e isto quando não retrocedem.
Não conseguimos nos situar no tempo. Daí tamanha carga de angústia, tanto nossa, quanto dos que nos rodeiam. Daí tamanho egoísmo e desamor. Daí os casulos de solidão em que estamos encerrados, paradoxalmente, numa época em que o mundo tem excesso de pessoas, muito mais do que seria desejável. O homem deste século XXI, no afã de concretizar o seu sonho (que, convenhamos, nada faz de prático para tornar concreto), só fabrica pesadelos e fica numa espécie de vácuo do tempo. Abomina, com facilidade, o passado, recentíssimo, perdendo uma carga inestimável de experiências, que faz questão de enterrar como velharias. E não consegue nunca, evidentemente, chegar ao futuro, onde, certamente, o espera a grande e implacável niveladora dos homens: a morte!!! Pura insensatez!!!