Isso me faz lembrar uma frase dita por ele logo que nos conhecemos: eu não ligo pra esse negócio de sucesso, o que eu quero mesmo é poder viver de musica. Enquanto isso “Noite do Prazer” explodia nas rádios de todo o país.
Entre os altos e baixos que um artista brasileiro, ou não, passa na vida, Zoli tem algumas histórias. Bizarras, divertidas, de classe. Musico dos músicos, até hoje ele é capaz de surpreender alguns colegas experientes com o inusitado de suas idéias. William Magalhães, grande arranjador e tecladista, líder da nova Banda Black Rio costuma dizer: “Tem muito guitarrista bom, alguns excelentes. Mas o único que tira coelho da cartola é o Zoli.”
Eu não vou falar sobre a sua formação, porque isso ele faz muito bem em seu depoimento neste DVD. O que eu quero mesmo é contar duas ou três passagens, que presenciei nesses nossos vinte e poucos anos de parceria e amizade.
Em 85, Zoli me convidou pra dirigir seu novo show e eu imediatamente pensei em chamar Deborah Colker para marcar umas coreografias. Isso muito antes dela armar seu circo lá no Sol. Combinamos todos de nos encontrar no Morro da Urca, no Noites Cariocas, onde ia rolar um show do Barão. Fomos lá, o show foi muito bom, e em seguida desembocamos numa discoteca lá no Morro mesmo – uma novidade daquele verão. Zoli e Debinha somem dançando na pista. Passado um bom tempo, voltam os dois rindo, suados e, bem ao seu
estilo, Debinha chega falando: Eu não tenho nada pra ensinar a esse cara. “Ele já nasceu pronto.”
Alguns anos depois, em São Paulo, Zoli estava fazendo show no SESC Pompéia. No camarim muita gente, confusão, um tremendo falatório. De repente, dou de cara com o lendário guitarrista da banda Tutti Frutti, o Luiz Carlini . Eu comento com ele: “rock soul funk.”
E ele: “Show do Zoli, Bernardo, se tiver dois dias, eu venho nos dois dias. Um só pra ver a mão esquerda e o outro só pra ver a mão direita.”
Essa agora foi na época em que eu fazia o programa Companhia da Musica com João Marcello Bôscoli. O guitarrista da banda do programa era Max de Castro. Zoli era o convidado da noite e chegou pra passagem de som mais cedo do que o esperado. Entrou no palco vazio, plugou a guitarra e tocou o primeiro acorde. Imediatamente, ouve-se uma seqüência de acordes de uma musica do próprio Zoli, que olha de rabo de olho pro fundo do palco. Outro acorde e outra seqüência. Na terceira seqüência, Zoli se aproxima da platéia,
onde eu estava sentado e me pergunta: “O que tá acontecendo aí?” E faz um movimento de cabeça pro fundo do palco. Lá estava Max com sua guitarra, mostrando o quanto conhecia da obra do mestre.
E pra terminar mais uma de Sampa. Os Paralamas estavam fazendo show em São Paulo. Ligaram pro Wilson Simoninha e pediram pra ele arrumar uma casa pequena, que pudesse ser fechada pra eles tocarem só pros amigos. Simoninha armou tudo com o extinto Supremo Musical, ali na Rua da Consolação. Eu fui lá com o Zoli. O show foi genial. No final, Herbert
desce do palco direto pra platéia e dá de cara com Zoli: “Rapaz você está aí?!
Ainda bem que eu não vi, senão não conseguia dar nem um acorde.”
Essas são histórias que podem ilustrar a trajetória de um artista, que depois de um show num barzinho perto da Praça XV – onde cerca de 20 pessoas dançavam em cima das cadeiras num happy hour frenético -, vira tranqüilo pra mim e diz: “Meu show pode ter 8 ou 800 pessoas, o importante é que todo mundo se diverte.”
AH! Eu ia me esquecendo que era pra falar de altos e baixos. Numa fase braba da carreira, Zoli era seu próprio empresário. Atendia ao telefone, dava o preço, marcava a Kombi, pegava os músicos, recebia, pagava, fazia tudo. Nesse tempo, quando ele acabava de tocar a primeira musica do show, costumava dar um tremendo suspiro, como quem diz “consegui”.
E eu pensava comigo mesmo “É, meu camarada, agora é que começou o trabalho.”
Bernardo Vilhena
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