Futebol de mentira

Houve um tempo no Brasil que valia a pena deixar o dinheiro no banco aplicado no “over night”. O rendimento era muito grande. Do dia para a noite a conta engordava tanto que durante o mês este valor superava, por vezes, muitos mecanismos de ganho das empresas. Que pena que isso tivesse acontecido! O Brasil pagou caro por isso. Se os correntistas resolvessem sacar o dinheiro do banco, naquela época, não haveria provisão. Era de mentirinha! O futebol de hoje está muito próximo do Brasil financeiro daquele tempo. Só se fala em milhões, mas os clubes, na esmagadora maioria estão às minguas. Muitas dívidas trabalhistas, dívidas com o fisco e com fornecedores são a tônica. Os salários vivem atrasados e tudo segue como se nada de ruim estivesse acontecendo. Os atletas saem dos clubes e depois, via de regra, entram na justiça contra os mesmos por falta de cumprimento das leis. Pedem verdadeiras fortunas a título de indenização e por vezes se contentam com valores ridículos, em relação à pedida inicial. Alex que defendeu o Guarani e depois foi vendido ao Internacional de Porto Alegre, numa negociação legal, mas imoral por parte do Guarani que teve dirigente recebendo, particularmente, mais do que o próprio clube, reivindicou judicialmente 13 milhões do bugre, mas se contentou com 35 mil reais, segundo acordo. Fala-se em 13 milhões como se fala em alguns trocados para se ir à feira. Os clubes se concentram e ficam devendo para os hotéis. Em Campinas há hotéis que não aceitam mais reservas de Ponte e Guarani. Ainda assim a folha de pagamento de ambos não é baixa. Numa empresa séria, muitas medidas de economia são tomadas quando a situação exige. No futebol parece ser diferente. Viver de aparências é o que importa. O futebol brasileiro precisa cair na real. Já não temos mais tanta torcida em campo. Ë claro que há jogos com grandes públicos, mas são muito poucos em relação à quantidade de jogos no país. O torcedor está perdendo o interesse de ir ao estádio. Ele continua gostando do futebol porque as TVs, as Rádios, os Jornais, os Sites e outros órgãos de comunicação estão cada vez mais entregando este produto e com riqueza de detalhes que apaixonam a todos. Acorda Futebol do Brasil! Até quando teremos que conviver com lamentações de dirigentes que continuam cometendo sempre os mesmos erros. Será que não vamos cair na real? Prometer salários altos e não cumprir, concentrar e não pagar os hotéis, emitir cheques e não honrá-los e outras práticas que não condizem com a retidão, são utilizadas com invariável freqüência, por forças das circunstâncias. Penso que os problemas que o futebol tem enfrentado só serão solucionados se houver uma conscientização de todos. Até na distribuição das cotas de TV. O clube dos 13 terá que se render a certas realidades e reavaliar certos conceitos. Esta instituição deveria pensar um pouco mais no futebol como um todo e agir com menos corporativismo. Nosso futebol é de mentira. Com raras exceções que contamos nos dedos de uma só mão, os clubes estão e ou ficarão em situação precária. Muitos times já deixaram de existir e precisamos cobrar que os comandantes façam alguma coisa, para evitar novas falências. Eu trabalho em rádio desde de 1970 e nunca vi uma situação tão complicada do futebol, como hoje. Quem apenas acompanha pela televisão não sabe das dificuldades dos nossos times. Mas o rádio tem trazido em seus noticiários a real posição das nossas equipes. A TV continua vendendo a beleza das jogadas que não existem mais por falta de craques e incendiando o povo numa frágil emoção que poderia ser natural por si só. Lamentavelmente estamos vivendo o “over night” da bola. O que se divulga não existe. E as aparências já não estão enganando mais!
Um abraço e boa sorte!