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sábado, setembro 13, 2025
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Afinal, para que servem os Bancos de Cordão Umbilical?

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Não obstante a ampla exposição na mídia sobre os inúmeros benefícios que as células do cordão umbilical podem proporcionar para o tratamento e cura de diversas doenças, muitas pessoas ainda não entendem a finalidade de se armazenar essas células, ou, não entendem como funcionam os chamados Bancos de Cordão Umbilical, como a Criogênesis, um dos maiores e o primeiro Banco Exclusivo de Sangue de Cordão Umbilical do Brasil
Esses bancos surgiram para atender ao avanço das pesquisas em Terapia Celular. Mas por que congelar as células do cordão umbilical?
Segundo o hematologista Dr. Nelson Tatsui, especialista no assunto e diretor-técnico da Criogênesis , o armazenamento dessas células tem como principal finalidade,
garantir um material compatível com a criança e com sua família para situações em que seja necessário um transplante de medula óssea. Embora a resolução da ANVISA (RDC 153 de 14 de julho de 2004) defina o banco de cordão para uso futuro das células-tronco estocadas, no próprio bebê, em nenhum momento foi determinada a proibição do seu uso em outros membros da família. Entre irmãos a compatibilidade é de 25%. Com os pais, essa possibilidade diminui mas continua sendo estrondosamente mais factível do que encontrar um doador em bancos públicos, seja em nosso país ou mesmo no exterior. Entre indivíduos não aparentados a probabilidade de encontrar um doador compatível é de aproximadamente 1:100.000.
Inúmeras pesquisas, algumas com resultados clínicos satisfatórios, outras em andamento, em todo o mundo, caminham no sentido de consolidar o uso das células do sangue de cordão umbilical para regenerar tecidos lesados e tratar inúmeras doenças, hoje consideradas incuráveis.
Desde a descoberta da cura da leucemia através do transplante de medula óssea, os pacientes têm enfrentado um grande obstáculo: encontrar doadores compatíveis. Isso acontece não apenas aqui no Brasil, mas também em outros países. Nos EUA, onde se localiza a maior central de procura de doadores compatíveis, o National Marrow Donor Program (NMDP), que possui em seu acervo aproximadamente 8 milhões de pessoas cadastradas como potenciais doadores de medula óssea e 150.000 unidades de sangue de cordão umbilical, a chance de um branco caucasiano encontrar alguém compatível é de 80%; e a de um indivíduo afro-descendente é de 60%.
Mas, estas estatísticas são apenas expectativas, infelizmente. Apesar de todo esse acervo, existe uma grande frustração, tanto nos médicos como nos pacientes, devido à falta permanente de doadores, pois somente 30% dos doadores compatíveis respondem ao chamado da central do NMDP. No Brasil, a situação é muito pior, já que o acervo é infinitamente menor. Além disso, apresenta um agravante: a grande miscigenação racial, que trouxe grande riqueza cultural ao nosso país, não traz simplicidade na questão de compatibilidade entre seus indivíduos.
A título comparativo, mesmo com o crescente acervo norte-americano, o professor Pablo Rubinstein solicitou verbas federais para coletar pelo menos mais 150.000 cordões a fim de assegurar a compatibilidade a uma parcela maior da população norte-americana. No Brasil, o Brasilcord (Banco Público de Cordão Umbilical) pretende coletar 12.000 a 20.000 cordões para cobrir, na sua totalidade, a população Brasileira. Esse é um número visivelmente ilusório e insuficiente.

Desse modo, para formarmos um banco de células tronco com perfil “ideal” para o Brasil, seria necessário considerar as seguintes providências:
– Prestigiar a coleta em hospitais que realmente representam a diversidade genética da população brasileira, buscando analisar profundamente os grupos raciais para os quais devem ser dirigidas as coletas e, conseqüentemente, avaliar as unidades coletadoras que ofertarão essa amplitude racial;
– Planejamento de coleta de pelo menos 100.000 cordões nos próximos 5 anos, aumentando esse volume anualmente;
– Fazer com que as centrais de transplante sejam totalmente controladas por uma instituição pública, principalmente as que possuem as maiores filas de pessoas aguardando atendimento;
– Fazer com que o investimento seja exclusivamente controlado pelo sistema público de saúde;
– Investir em campanhas públicas incentivando a doação de medula óssea e de sangue de cordão umbilical.
Embora o número de amostras deva aumentar consideravelmente, um número razoável de pessoas, consideradas como possuindo uma carga genética rara ou haplotipia única, não terão chance de encontrar alguém compatível num banco público. É por isso que o NMDP, mesmo com seu gigantesco acervo, não assegura o encontro de uma célula compatível. Esta seria mais uma razão para a valorização dos bancos privados. Somente na Criogênesis, há mais de 1.000 unidades estocadas e em 2003 o Banco foi chamado para o tratamento de um jovem de 4 anos, com recaída tardia de Leucemia Linfóide Aguda. A doadora foi sua irmã, cujo sangue do cordão havia sido congelado pela Criogênesis seis meses antes. Foi feita a infusão das células no paciente e, após 30 dias, ocorreu o início da produção de sangue. Foram seguidos todos os requisitos necessários, principalmente a indicação médica e a autorização familiar. “Hoje, não tenho dúvida que o sistema privado está muito mais capacitado a atender um transplante, principalmente quando incluímos toda a família, do que o sistema público em atender toda população”, afirma Dr. Nelson Tatsui.
Vale ressaltar que, como está, o sistema de Bancos Públicos no Brasil, apesar dos vultosos recursos prometidos, levará muito tempo para colaborar de maneira significativa na solução do problema. Isto se deve a vários fatores, por exemplo: uma das mais importantes unidades de coleta do sistema público está sob responsabilidade de uma entidade privada que aceita doações apenas dos partos que ocorram dentro das suas dependências. Dessa forma, a imensa maioria dos brasileiros (que compreende a enorme diversidade étnica de nosso povo, e é onde, do ponto de vista do transplante, reside o problema), está proibida de realizar a doação. Este fato, além de frustrar a iniciativa das famílias, praticamente anula a possibilidade de um dia as amostras estocadas refletirem a diversidade de nossa população. Há inúmeras maternidades públicas não cobertas pelo programa de doação de cordão, sem falar, dos problemas de logística envolvidos no processo de captação. É necessário avaliar, em todos níveis de saúde, a meta de coleta do sistema público, tanto em números quanto na representatividade racial, para que possam realmente respaldar a população brasileira.
Questionado sobre a situação de que a célula-tronco carrearia o defeito genético e inviabilizaria o transplante autólogo (no próprio filho), Dr. Nelson Tatsui foi enfático, “além da leucemia sem doador compatível, há muitas outras doenças que respondem ao transplante autólogo (segue anexa lista de doenças já tratáveis com cordão umbilical). Além disso, em 2000 a ciência reportou de forma inédita a correção da síndrome da imunodeficiência severa combinada, doença fatal antes do primeiro ano de vida, por meio da manipulação genética da célula-tronco do próprio paciente. Ressalto ainda que o acervo público de células tronco do sangue de cordão umbilical também apresentará, inevitavelmente, alterações genéticas”.
Enquanto não é solucionado o sistema público, gasta-se tempo e energia discutindo a finalidade do sangue de cordão estocado no sistema privado. É uma infrutífera discussão precoce que leva o país andar mais uma vez na contramão dos avanços tecnológicos. Praticamente todos países do mundo já possuem pelo menos um banco de sangue de cordão umbilical privado, exceto a França que optou por um sistema público único. Cabe comentar que a França já possui um sistema público de saúde bastante individualizado e que não pode ser utilizado como modelo para nosso país. Aliás, alguns outros países também não seguiram o modelo francês e possuem pelo menos um banco de sangue de cordão privado. São eles: Israel, Alemanha, Estados Unidos, Japão, China, Canadá, Rússia, Coréia do Sul, Dinamarca, Noruega, Nova Zelândia, Bélgica, África do Sul, Áustria, Polônia, Malásia, Turquia, Inglaterra, Escócia, Austrália e Chile.

Por Vera Morais em entrevista com Dr. Nelson Tatsui – Hematologista, Especialista em Células Tronco e Diretor da Criogênesis.

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