É saudável, necessário e indispensável fazermos uma revisão periódica das nossas crenças e convicções – para, testar sua veracidade e intensidade – e analisar o conjunto de valores que norteiam e direcionam nossa vida. Trata-se de atitude sábia, que só nos traz benefícios ao impedir que incorramos (ou permaneçamos) em erro.
Aquilo em que acreditamos é o roteiro pelo qual pautamos pensamentos, sentimentos e atos. Na vida impera a lei natural da causa e conseqüência. Tudo o que fizermos, de bom ou de ruim, nos trará resultados de idêntica natureza. É preciso, por outro lado, fazer criteriosa análise do que, como e para quem dizemos as coisas. Ou seja, fazer rigoroso balanço das nossas palavras, porquanto não é apenas o peixe que morre pela boca..
As idéias, porém, não têm geração espontânea. Surgem da observação, do questionamento, do diálogo e da vontade de saber. Bem diz o povo que “a curiosidade é a mãe de todo o conhecimento”. Aquilo que não espicaça a nossa mente e não nos torna inquietos até que saibamos tudo a respeito, por mais óbvio que seja, não se fixa na memória. Só aprendemos, de fato, o que nos chama a atenção e nos torna curiosos sobre todos os detalhes. A esse aprendizado, somamos nossas observações e… Pronto! Nasce uma idéia.
Todavia, o grande segredo para as descobertas do espírito é a capacidade de perguntar. Apenas obteremos respostas convincentes às perguntas eficazes e pertinentes que soubermos fazer. No jornalismo, isso é fundamental. O bom repórter só chega ao âmago da questão que pretende levar aos leitores se souber perguntar o que é relevante às suas fontes. Na vida, vale o mesmo princípio.
Trata-se de um método muito antigo, denominado de “Maiêutica”, atribuído ao filósofo Sócrates. Consistia (ou consiste, pois ainda é muito utilizado) em gerar idéias complexas a partir de perguntas simples e articuladas, dentro de determinado contexto. De questão em questão, passo a passo, seus discípulos chegavam às verdades fundamentais da vida, aquelas que, embora óbvias, não conseguimos captar com precisão por outros meios. Maiêutica, portanto, pode ser definida como “a arte de fazer nascer as idéias”.
Ressalto, todavia, que essa, como toda busca, gera imensa carga de ansiedade. Isso ocorre quer se busque uma verdade, quer um amor, uma amizade, uma profissão, um caminho para Deus etc. Não tarda para que esse sentimento se transforme em angústia, que nos causa intenso desassossego. Isso, porém, é normal e não deve nos preocupar, a menos que levemos a ansiedade ao extremo.
Nesse caso, correremos sério risco, até, de contrairmos uma doença, física e/ou psicológica. Por mais certeza que tenhamos do caminho para encontrar o que buscamos, sempre haverá uma pontinha de dúvida: Vai dar certo? Estamos preparados para o desafio? Quais as alternativas de que dispomos para o sucesso? E eis aí a tal da Maiêutica em ação!
Reitero que, desde que não levados ao extremo, esses sentimentos de ansiedade, dúvidas e tensões são normais. Mas devemos cuidar do que dizemos. O poeta Emilsen Pedro Zorzi faz pitoresca (posto que pertinente e sábia) analogia das palavras triviais, aquele conjunto relativamente pequeno que usamos no cotidiano para nos comunicar com os outros, com “produtos enlatados”. Ou seja, os que consumimos e, depois de usados, nos descartamos.
Não se referiu, claro, às palavras nobres, usadas pelos poetas para compor seus versos, ou pelos pensadores para registrar pérolas do pensamento, enfim, pelos que têm o que dizer e que mereça permanência. Há palavras cortantes, explosivas, destrutivas, das quais jamais deveríamos nos utilizar, mesmo que “enlatadas” e passivas de “descarte”. São tão ferinas, que seu invólucro chega a nos cortar a língua. Livremo-nos delas. Descartemos do nosso vocabulário esse lixo cultural!
Não raro, por causa do noticiário aterrador dos meios de comunicação, nos dando conta das mazelas do cotidiano, com seu desfile de desgraças, assassinatos, assaltos, injustiças, taras, vaidades exacerbadas, egoísmo e corrupção, nos sentimos tentados ao desânimo e a achar que o mundo não tem mais conserto. Tem! Não raro, desistimos até de pensar, de gerar idéias e, sobretudo, de soluções, duvidando da sua eficácia.
Embora se trate de atitude normal, como já destaquei, nos esquecemos de que esta geração também vai passar, como tantas outras já passaram e que, se prepararmos devidamente as próximas, esse quadro tem possibilidades concretas de mudar. Esse é o nosso permanente desafio! O da promoção dessa mudança. Ademais, em vez de desanimar, por que não pensar o que deve ser pensado? E mais: por que não fazer o que tem que ser feito? Afinal, as idéias têm imenso poder transformador. Mas essa transformação só é possível se elas não permanecerem no mero plano da cogitação e forem postas em prática.
O poeta peruano Eduardo Rada tratou com perícia do tema no poema “Realizador” Após apontar as mazelas que nos assustam e angustiam, concluiu, com estes versos sensatos e otimistas, que faço questão de partilhar com você, fiel leitor: “Mas felizmente/ainda restam aqueles/que realizam o que pensam/e demonstram em sua prática/o que é possível ser pensado/ou melhor ainda:/o que é preciso ser feito”. Felizmente!!! Seja você também, pois, não somente um dínamo gerador de idéias, mas, sobretudo, um realizador.
Pedro J. Bondaczuk