De uma porunga grande saem duas violas, muitas notas e sons que trilham causos, remetem às folias, ao cheiro de mato e de chão batido, ao homem do campo e à essência da cultura popular brasileira. Mestre na arte do “fazer”, do “tocar” e do “contar”, o artesão e violeiro Levi Ramiro sobe ao palco do Theatro Municipal de Paulínia como anfitrião, dando continuidade ao Circuito Syngenta de Viola Instrumental. Com ele, três convidados ilustres e também mestres da viola: Renato Teixeira, Chico Moreira e Sidnei Oliveira. Entre uma moda e outra, algumas histórias de grandes sertões e veredas. O show acontece na sexta-feira, dia 26 de junho, a partir das 20 horas e é gratuito. Os 1.300 ingressos estarão disponíveis ao público na bilheteria do teatro, uma hora antes do show.
Paulínia é a segunda cidade a receber o Circuito Syngenta de Viola Instrumental, que já passou por Vitória (ES) e ainda vai percorrer mais 10 municípios, entre junho e novembro de 2009, sempre reunindo grandes nomes do gênero, a convite de Levi Ramiro. Para esta segunda edição, o artesão e violeiro promete alguns clássicos como Tristeza do Jeca (Angelino de Oliveira) e Malandrinho (Tião Carreiro), além de suas próprias composições: Barroquinha, Sete Cores e Vaquejada.
O que o público da região pode esperar? “Um show de música instrumental mais descontraído, menos formal, uma verdadeira prosa de viola”, diz Levi Ramiro. O formato mescla música e prosa, com Ramiro como anfitrião, fazendo a “ponte” entre os violeiros e a platéia, através de “causos” e histórias pitorescas envolvendo a música regionalista de raiz. “Falaremos sobre a história de algumas músicas e a ligação do artista com sua terra”, complementa o violeiro.
Os públicos de Paulínia e região terão o privilégio de conferir Renato Teixeira em versão instrumental. O cantor e compositor, um dos grandes responsáveis pela projeção da cultura caipira em âmbito nacional, passeia pelos clássicos de seu repertório através da viola, potencializando toda a riqueza e musicalidade de canções como Amanheceu, peguei a Viola, Um Violeiro Toca, Romaria, Tocando em Frente, Cuitelinho, Casinha Branca, entre outros. “Meu projeto de vida é dar continuidade ao sonho de divulgar e difundir cada vez mais o espírito do caipirismo valeparaíbano, não pela repetição das velhas formas e sim pelo potencial que esse universo cultural oferece”, diz Renato, que viveu por anos em Taubaté-SP.
O show em Paulínia também abre espaço para os talentos revelados nas duas edições do Prêmio Syngenta de Viola Instrumental. Sidnei Oliveira, vencedor em 2004, apresenta suas próprias composições. Chico Moreira, ganhador da edição de 2005, sobe ao palco no comando do trio Viola, Couro e Voz, formado ainda por Pedro Romão (percussão) e Paulo D´Ávila (viola). Levi Ramiro deve abrir o espetáculo e convocar os outros violeiros para “estabelecer o diálogo”. O show será recheado de improvisos e uma certeza: o gran finale, com todos os músicos na execução de um grande clássico do gênero.
O projeto é uma iniciativa da Syngenta e recebe apoio do Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet. São ao todo, 20 shows gratuitos até 2010. A proposta é valorizar a música regionalista e a cultura da viola instrumental, difundindo suas vertentes e dando ao público a oportunidade de assistir a espetáculos que remetem à sua própria identidade. “Nosso objetivo é contribuir para a valorização da viola caipira, do artista compositor e do instrumentista, buscando também prestigiar nosso principal parceiro, que é o homem do campo”, explica o gerente de relações institucionais da Syngenta, Guilherme Landgraf Neto.
Viola: porta voz do homem do campo
De origem ibérica, a viola foi introduzida no país pelos jesuítas e imigrantes portugueses. Estes últimos trouxeram danças, cantos camponeses, as folias de reis e outras manifestações, que foram incorporados à nossa cultura e “naturalizados”, assim como o instrumento, que sofreu evoluções. O pesquisador Alceu Maynard de Araújo, estudioso da cultura popular brasileira e da viola, reproduziu em seus registros, histórias contadas por seu avô, tropeiro entre 1870 e 1918: “ele nunca vira seus peões e camaradas viajarem sem sua viola, quase sempre conduzida dentro de um saco, amarrada à garupa de seu animal vaqueano. Não havia pouso que após o trabalho azafamado do dia, não tocassem antes de dormir o sono reparador.” Do Pantanal ao Rio Grande do Sul, de Minas ao interior de São Paulo, a viola, mais do que proporcionar momentos de lazer e descontração depois de um árduo dia de trabalho, se transformou em uma forma de expressão. Identifica e reproduz a vida do homem do campo.
A viola ganhou a cidade, seus auditórios e rádios a partir de 1910, numa iniciativa do folclorista Cornélio Pires, que promoveu um programa de violas em Tietê e posteriormente organizou um festival em São Paulo. Quase um século depois, a Syngenta reúne um time de exímios violeiros – além de Levi Ramiro, Renato Teixeira, Sidnei de Oliveira e Chico Moreira estão: Fabrício Conde, Ivan Vilela, Paulo Freire, Zeca Collares, Vinícius Alves, entre outros – para percorrer cidades, promovendo a cultura da viola. “O circuito Syngenta, realizado em nível nacional, oferece aos músicos a oportunidade de divulgar seus trabalhos e também permite ao público acompanhar de perto este movimento da nossa música tão carente de espaços e que além de despertar a nostalgia da vida do campo mostra uma grande variedade de estilos, muita sensibilidade, ousadia, poesia, enfim, os antigos e novos caminhos da viola”, diz o violeiro Levi Ramiro.
Caminhos novos e promissores. A viola vive um momento de valorização. A Escola de Comunicações e Artes da USP passou a oferecer em 2009, no campus em São Paulo, bacharelado em viola caipira, sendo uma das variações do curso de graduação em Música. É o único do mundo. A coordenação está a cargo do pesquisador, professor e violeiro, Ivan Vilela, que faz parte do time de atrações do Circuito Syngenta de Viola Instrumental ao longo do ano.
Serviço: Circuito Syngenta de Viola Instrumental:
Show com Renato Teixeira, Levi Ramiro, Sidnei Oliveira e Chico Moreira
Local: Theatro Municipal de Paulínia – Av. Prefeito José Lozano Araujo, 1551
Bairro Parque Brasil 500 Data: sexta-feira, 26 de junho Horário: 20 horas.
Distribuição gratuita e individual de ingressos até a capacidade máxima da casa, de 1.300 lugares.
A bilheteria será aberta uma hora antes do show (19 horas), com retirada de ingressos por ordem de chegada. Outras informações podem ser obtidas no endereço: http://www.circuitosyngentadeviola.com.br