Este foi foi o objetivo da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao requerer medidas cautelares que foram cumpridas nesta terça-feira (11), na Operação Ross. Decorrente de informações prestadas em colaboração premiada por diretores do Grupo J&F, as medidas foram autorizadas pelo relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Marco Aurélio Mello, que também determinou a suspensão do sigilo após o cumprimento dos mandados.
Ao todo, foram feitas buscas em 24 endereços ligados ao senador Aécio Neves e a outros políticos que – conforme informações já reunidas pelos investigadores – podem ter sido beneficiados pelos pagamentos.
No pedido encaminhado ao relator, Raquel Dodge destaca a existência de indícios de uma relação espúria e duradoura entre Aécio Neves e executivos da J&F, que “confessadamente praticaram múltiplos atos de corrupção em todas as escalas do poder”. Para a PGR, as medidas de busca e apreensão são proporcionais e relevantes no caso concreto.
Foram requeridas buscas em endereços ligados a 17 pessoas físicas e jurídicas que – de acordo com as informações já reunidas pelos investigadores – serviram aos mecanismos de lavagem de dinheiro, como a emissão de notas fiscais frias utilizadas para simular a prestação de serviços. Embora a maior parte dos fatos tenha ocorrido em 2014, a procuradora-geral entende que, nestes locais, poderão ser encontradas informações úteis para a persecução criminal.
Outro aspecto mencionado na petição é a necessidade de aprofundamento das investigações no tocante ao recebimento de dinheiro espúrio por partidos políticos, ainda que os repasses tenham sido feitos via doação oficial. É que, segundo informações dos colaboradores, o dinheiro era parte de um acerto que envolvia a atuação do senador e então candidato a presidente em favor do grupo econômico.
Em troca dos recursos financeiros, o senador teria prometido favorecimentos em um eventual governo presidencial (2015 a 2018), além de influência junto ao Poder Executivo de Minas Gerais, neste caso, com o objetivo de viabilizar a restituição de créditos tributários.
As investigações apuram a solicitação de vantagens indevidas por parte do parlamentar tucano, o que teria ocorrido em pelo menos quatro ocasiões. Ao todo, o Grupo J&F teria repassado cerca de R$ 110 milhões a Aécio, sendo que parte desse valor teve como destinatários finais 12 legendas que o apoiaram na disputa presidencial.
Ainda segundo as investigações, parte do dinheiro foi entregue, em espécie, ao senador. O restante dos repasses foi viabilizado por transferência bancária e pelo pagamento de serviços simulados. No inquérito, são investigados os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Em 2017, Aécio Neves foi denunciado por corrupção passiva e obstrução de Justiça no âmbito de outro inquérito que também apurou relações do político com o grupo J&F. Na atual petição, a PGR frisou que o objetivo é dar continuidade à investigação das práticas de corrupção (que não é objeto da ação penal em curso) e de lavagem de dinheiro.