Mulheres lésbicas e bissexuais sentem-se inibidas em procurar ajuda do ginecologista. Embora não seja possível estimar quantas não vão aos consultórios, o movimento de homossexuais femininas queixa-se sobre a falta de um espaço adequado para abrir sobre sua sexualidade. Muitas saem dos consultórios com recomendações para usar pílulas anticoncepcionais ou camisinha masculina. Sem informação também acham que só vai ter câncer no colo do útero quem tem relações heterossexuais, por isso não fazem o exame preventivo.
Um dos planos do Sistema Único de Saúde (SUS) do Ministério da Saúde é assegurar a assistência ginecológica de qualidade e atenção à saúde integral em todas as fases da vida, para as mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais. Para isso, uma das medidas será a inclusão de conteúdos relacionados à população GLBT na formação dos profissionais da saúde de nível técnico e da graduação, bem como abordagem do tema nos processos de Educação Permanente em serviço dos profissionais do SUS.
“Nem todos os profissionais de saúde estão preparados para lidar sem preconceitos com questões de sexualidade. Alguns sabem pouco sobre a vida e as práticas sexuais de mulheres que transam com mulheres,” revela Ana Maria Costa, diretora do Departamento de Apoio à Gestão Participativa do ministério e autora do documento Saúde da População de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.
O quadro da falta de cuidado vai contra as recomendações do Ministério da Saúde. “Mesmo que elas não tenham uma relação sexual com penetração, não usem contraceptivos devem consultar-se anualmente com um profissional da área”, ressalta Ana Costa.
Independente da orientação sexual, o ministério sugere o exame preventivo do câncer de colo de útero a cada três anos para aquelas que têm entre 25 e 59 anos e exames anuais para aquelas com citologia alterada. A mamografia é recomendada uma vez a cada dois anos, para as entre 50 e 69 anos.
Representante das lésbicas no Conselho Nacional de Saúde, Carmen Lúcia Luiz, conta que em um encontro de lésbicas no Piauí, onde havia um ônibus disponível do Sesc para exame do papanicolau, de 102 mulheres apenas duas fizeram o preventivo.
“Não sabemos se elas acham que não precisam porque têm relações com mulheres, ou se têm medo do espéculo (bico de pato), aparelho usado no papanicolau. Há muitas questões que envolvem o assunto e ainda não sabemos quais são”, alerta Carmen.
Outra sugestão que consta no documento é a inclusão de dados nos formulários do SUS e sistemas de informação sobre a orientação sexual e identidade de gênero para realização de estatísticas e estudos. O SUS também já recomenda que seus profissionais de saúde anotem no prontuário de transexuais o nome social do indivíduo. Um travesti chamado Roberto deverá ser chamado pelo nome Roberta, se assim ele preferir. O direito é garantido pela Carta dos Usuários da Saúde do SUS.
O tema saúde da população das lésbicas ganha visibilidade durante a 1ª Conferencia Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais a ser realizada entre os dias 6 e 8 de junho, em Brasília, sob a organização da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República. A etapa estadual do Distrito Federal será no dias 26 e 27 de abril.
Saiba mais no site http://www.conferencianacionalglbt.com.br/